domingo, 30 de setembro de 2012

Corazon: Ang unang aswang, 2012


No campo dos monstros lendários, o povo filipino não fica atrás dos seus vizinhos do sudeste asiático. Por entre mulheres despeitadas e mortos que regressam à vida, também há monstros que comem criancinhas. Por que não existe nada melhor para convencer o povo a não cometer actos moralmente condenáveis, do que afirmar que um monstro assassino virá atrás deles. O aswang é um monstro genérico, pode ser aplicável a qualquer contexto: “olha que a bruxa te vai apanhar”, “vê lá se o vampiro não vem atrás de ti”…
Por isso, inventar uma qualquer estória para o surgimento do Aswang quase que pode ser inscrita no imaginário popular. Corazon: Ang unang aswang, tem por base uma vila ficcional na qual Corazon (Erich Morales) vive com o marido Daniel (Ramsey). No pós 2ª Guerra Mundial, as pessoas estão amedrontadas e mais supersticiosas que nunca. “Faz aos outros, antes que te façam a ti”, parece ser a mentalidade geral, o que não abona muito a favor deles. Aliás, qualquer um que desafie o pensamento dominante é imediatamente afastado e são-lhe atribuídos os piores defeitos e acções. No meio de tanta insanidade, Corazon vive com Daniel um romance agridoce: por diversas vezes ficou grávida e nenhuma foi até ao fim. Com as pessoas a vê-la como um mau augúrio e praticamente sem apoio que não o marido, Corazon vê no nascimento de um filho o único modo de aplacar a população cada vez mais hostil e refugiar-se no mundo do amor incondicional entre mãe e filho. Desesperada, recorre mesmo a uma mulher tida como bruxa para preencher o vazio.
O que é tida como a última solução torna-se um pesadelo quando Corazon perde mais uma vez o feto. Amargurada com o facto de a população estar cada vez mais unida contra ela e a desilusão de Daniel por perder mais um filho, Corazon vira-se para as trevas dentro de si, seu único consolo. A doce, inocente Corazon passa de bestial a besta. Se Erich Morales é convincente em ambos os papéis, não deixa de ser a transição que mais choca. Como é que alguém se transforma numa besta comedora de criancinhas? Que ela virasse toda a raiva e dor contra os aldeões ignorantes a sua fúria implacável é mais provável e acessível do que magoar a sua descendência. Para os magoar? É capaz de ser um pouco extremo não?
Mais estranha é a incapacidade de Daniel, que durante metade do filme para inteligente e capaz, perceber que a mulher é a causadora do mal que assola a terra. E ainda mais surpreendente é a reacção de Daniel à verdade: aquela é a mulher que ama, daqui até ao fim do mundo. Um sentimento meritório, não fosse ela um monstro! Eis que Corazon: Ang unang aswang que até ao momento era um filme de terror passa a romance dramático e a audiência já não sabe o que fazer. Chorar lágrimas de crocodilo pelos apaixonados amaldiçoados? Clamar por vingança pela perseguição de crianças? Por muito boa vontade que se tenha é difícil não apoiar a segunda facção pelo que o argumento, defensor fervoroso dos amantes não tem senão apoiar-se no ridículo. Apesar de uma cinematografia irrepreensível e de uma dupla cuja química se sente fora do ecrã é impossível ignorar que “Corazon” não mete medo a ninguém. E mesmo quando está despenteada e de andrajos, Erich é daquelas mulheres que não ficam feias de modo nenhum. É nestas alturas em que nem a magia do cinema consegue fazer um dos seus milagres. Uma estrela e meia.
Realização:  Richard Somes
Argumento:  Richard Somes e Jerry Gracio
Erich Morales como Corazon
Derek Ramsay como Daniel
Mark Gil como Matias
Tetchie Agbayani como Melinda
Maria Isabel Lopez como Herminia

Próximo Filme: "Pulse" (Kairo, 2001)

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