domingo, 5 de maio de 2013

TOP Saga “Whispering Corridors” (1998-2009)


Trailer de "Whispering Corridors" (1998)

Duas belas tardes, nos idos de março (notem bem a referência cinematográfica, hã?), muni-me das armas essenciais de qualquer cinéfilo que se preze: chocolate, uma manta, lencinhos renova, que isto nunca se sabe quando a lágrima se forma ao canto do olho e decidi-me a visionar a saga de terror coreano “Whispering Corridors”.

“Whispering Corridors” é um dos primeiros clássicos do final dos anos 90 que contribuíram para a insanidade temporária ao redor do j-horror e k-horror. A saga gerou cinco filmes, o último dos quais estreou apenas há alguns anos (2009) e, provavelmente encerrou um dos capítulos mais famosos do cinema de terror sul-coreano. Impressões: as estudantes de liceu são bastante desenvolvidas em termos de físico (ou isso ou já contratavam actrizes mais novas para os papéis, só um pensamento), contem com uma percentagem de 0,00000000000123% de testosterona neste filme, toda a gente a dada altura pensa em matar-se ou chega mesmo a suicidar-se, os colégios femininos são um inferno e os tipos que trataram do marketing dos filmes são uns génios. Se desejam descobrir em que se baseiam estas impressões sigam sem demoras para o TOP Saga “Whispering Corridors” do Not a Film Critic.

1) “Whispering Corridors 2” – Memento Mori (1999): Min-ah é uma colegial demasiado curiosa para seu próprio bem que encontra o diário esquecido de uma colega de turma. Ao invés de o devolver ela dedica-se a explorar cada página que foi decorada como se de um tesouro se tratasse por Shi-eun e Hyo-shin de quem corre o rumor de que estão envolvidas romanticamente. Quando Hyo-shin salta do telhado da escola para a morte, Min-ah e as colegas começam a ser alvo de eventos sobrenaturais cada vez mais aterrorizantes. Conseguirá Min-ah descobrir a ligação entre o diário e o fenómeno antes que seja tarde demais?

2) “Whispering Corridors” (1998): O último ano de secundário inicia-se com uma tragédia. Park, uma professora a quem as alunas chamavam pouco afectuosamente de “Velha Raposa” é encontrada morta por enforcamento, na escola por duas alunas. Jae-yi é a típica rapariga tímida em quem ninguém repara até ao último ano e Ji-oh é a jovem artista cheia de talento que os professores conservadores adoram odiar. Elas encontram numa sala de aulas desactivada o local onde estudar e criar arte sem ninguém as incomodar. Diz-se pela escola que o local é assombrado pelo fantasma de uma antiga aluna que morreu ali 9 anos antes e que esse evento poderá estar relacionado com a morte da professora Park.

3) “Whispering Corridors 4: Voice” (2005): Young-eon passa os dias a treinar canto com a professora ou se deixa ficar até bem tarde de noite, no estúdio da escola. Um dia ela ouve um barulho e ao investigar, acaba por ser assassinada com uma pauta de música. Ela transforma-se num fantasma condenado a vaguear os corredores da escola até conseguir alcançar um qualquer tipo de resolução que lhe permita passar para o outro lado. A sua única esperança é a melhor amiga Sun-min que parece ser capaz de a ouvir do além. Recorrendo às últimas memórias antes da morte e a investigação no mundo dos vivos de Sun-min tentam descobrir quem está por trás da sua morte.



4) “Whispering Corridors 5: Suicide Pact” (2009): Eon-Joo atira-se do telhado do colégio para a morte. A irmã mais nova assiste ao suicídio. No mundo dos vivos ficam ainda três raparigas assustadas com um segredo terrível que envolve um pacto de suicídio. Yoo-jin, Eun-yeong e So-hee juram silêncio mas esta não consegue deixar de confessar à irmã da amiga que estava no telhado com Eon-joo quando esta saltou. À medida que Jeong-eon começa a pressionar as colegas para que estas revelem o motivo pelo qual Eon-joo se suicidou os rumores de que So-hee a terá empurrado intensificam-se. Foi suicídio ou será que as amigas escondem um segredo terrível?

5) “Whispering Corridors 3: Wishing Stairs” (2003): Jin-sung e So-hee são as melhores amigas mas também o maior obstáculo uma da outra. Uma escola russa de ballet irá à escola delas para recrutar uma bailarina. So-hee parece fadada para ganhar o lugar. Ela é bonita, rica e a mais talentosa das duas. Uma colega de ambas diz a Jin-sung que há uma lenda que conta que se subirem os 28 passos de uma escadaria perto do dormitório da escola e os contarem alto, irá surgir um degrau extra, onde aparecerá um espirito que lhes concederá um desejo. Em desespero de causa Jin-sung recorre às escadas mágicas. Pouco depois, So-hee tem um acidente que a deixa inválida e, com o desgosto suicida-se, tornando-se um fantasma. Como Jin-sung vem a descobrir, os atalhos têm um preço…

Veredicto:

A sociedade coreana acredita no esforço do individuo durante os anos formativos, como modo de alcançar a melhor posição possível em adulto. O que lhe sucede, para o bem e para o mal, resulta da sua capacidade de memorização, disciplina, respeito pela autoridade e dedicação extrema. Para tal, os alunos passam tantas horas no colégio, entre aulas, explicações, estudo e outras actividades que permitam aumentar o desempenho escolar que a maioria dos acontecimentos importantes sucedem durante o período de formação ou dentro do estabelecimento. Isto, se não tiverem mesmo rendimentos para pagar um colégio interno. Um pequeno preço a pagar para o sucesso futuro. Assim, não é de estranhar que inúmeros filmes tenham como cenário a instituição ou demonstrem os alunos em uniforme escolar.
Hora do Castigo
“Whispering Corridors” foi, à altura, inovador ao demonstrar o brutal sistema de castigos do ensino coreano. Numa cena as alunas são forçadas a sentar-se nas secretárias e manter os braços no ar até ordem em contrário do professor, outra há em que o professor espanca uma aluna em frente a toda a turma e ainda uma cena em que uma jovem mostra os braços martirizados de tanto levar com a palmatória. Elas devem aceitar e calar o julgamento do professor, mesmo que este seja motivado por motivos mesquinhos como a classe social, o facto de possuir poder para tal, ou somente descontentamento próprio que o leva a descarregar as frustrações sobre os alunos com menor capacidade de defesa. Um sistema que leva depois as próprias colegas a criar inimizades, pois o comportamento do professor dá-lhes uma desculpa para maltratar as colegas mais fracas ou que percepcionem que estão a contribuir para um desempenho mais fraco da turma. O grupo pode até sentir ser a sua obrigação expulsar os elos mais fracos, para bem do colectivo. “Whispering Corridors” tem bastante conteúdo para análise em termos do sistema de ensino e da própria sociedade mas menospreza outros aspectos que se desejam num filme como o mínimo de plausibilidade da estória. Fica a ideia que o argumentista não terá passado anos felizes na escola e que a película terá sido o modo de expiar os demónios desses anos. E pouco mais resiste ao teste do tempo. Existem demasiadas personagens que nada têm a ver com o mistério da morte da senhora Park. Para despistar? Mas é neste primeira filmes que reside a grande mentira do marketing que tem levado milhares a procurar a saga: a essência de “Whispering Corridors” reside no género dramático e não no terror.
“Memento Mori” constitui mais um marco para a série. Como sequela demarcou-se da primeira estória retendo apenas o título e optou novamente por um tema controverso. Desta feita por um assunto tabu, à época, no cinema coreano. A narrativa centra-se num casal lésbico. Eis que “Memento Mori” é um romance trágico e só aos 40 minutos de filme decide enveredar pelo assombro. Há poucas personagens exageradas sendo que as fofocas de corredor e picardias podiam ser as de estudantes na vida real. O seu calcanhar de Aquiles é o mesmo de “Whispering Corridors”, são os elementos de terror que retiram força a uma estória poderosa. Onde o primeiro filme é opressivo o segundo é ternurento: a luta de um primeiro amor que tenta resistir às pressões de uma sociedade pouco condescendente para quem ousa ser diferente. Mas ainda não é o filme de mulheres por excelência. Para isso terão de aguentar até ao quinto e, até ao momento, último filme a ser realizado.
Mulheres apaixonadas. Problema?
“Wishing Stairs” segue uma via mais mística desde o início, com a sugestão de existência de uma escadaria mágica. Foi o maior desapontamento da série. Apresenta a narrativa menos subversiva e é ainda minado por interpretações que o tornam banal perante os filmes anteriores e outros filmes de terror sul-coreanos. A ideia central é a de que se deve tentar abraçar os desafios e lutar para atingir objectivos através do esforço próprio. Os riscos de se adoptarem outros meios podem ser demasiado grandes. A única aproximação a “Memento Mori” é o surgimento de novo romance lésbico, desta feita com tons mais subtis, isto é, fizeram o mesmo apenas mais cobarde. Infelizmente, morrendo a personagem mais interessante da equação, a que resiste é mais aborrecida, perdendo até relevo para uma personagem secundária (Jo-an num excelente desempenho). Do género de terror, propriamente dito, é tudo standard (atenção à bailarina do outro mundo, no entanto).
Tudo por culpa disto
Depois de um terceiro filme que anunciava finalmente, que a série estava a perder fulgor e ideias eis “Voice” regressa finalmente às premissas interessantes. Pela primeira vez, o enfoque está no fantasma, uma estudante que pretende descobrir a identidade do seu assassino e o motivo pelo qual foi morta e isto sucede logo nos instantes iniciais. Há voz depois da morte. Não havia uma série que chamava aos corpos “testemunha silenciosa”? A audiência não tem de esperar 40 minutos até que aconteça algo remotamente enigmático e assustador. Mas se começa bem a qualidade é descendente. Se o início é absurdo, a reviravolta (pois, já cá faltava a reviravolta comum a todos os filmes de terror dos últimos anos) resulta num final em aberto frustrante. “Voice” também marca o final da utilização de filtros azuis, tão típica da saga e dos filmes da saga.
Salva-me.
“Suicide Pact” é aquele que foca o tema mais prevalente em toda a saga: o suicídio. Qualquer dos filmes anteriores tinha retratado ou mencionado um suicídio. Talvez por isso ele tenha um sentido de desespero mais apurado. Também é capaz de ajudar o facto de a ação se desenrolar num colégio interno católico. Não existe uma transição de momentos felizes para momentos trágicos. Se estiverem com ideias estranhas nessa altura, ver um filme que aborda tão abertamente o suicídio de adolescentes é capaz de não ser muito boa ideia, não interessa quantas descabeladas tenha. Além disso, as personagens deste filme fazem jus ao nome “corredores dos sussurros”. As desavenças, invejas e rumores entre mulheres são tantas que este filme é capaz de cansar o homem mais paciente. São mulheres assim que dão mau nome ao género feminino. E vá lá, as estudantes já se parecem com estudantes reais e não com actrizes de vinte e poucos anos com um uniforme escolar.
Se calhar já arranjávamos outra ocupação de tempos livres

A saga “Whispering Corridors” não é de todo em todo, menos que o filme vulgar de terror mas não ultrapassou na totalidade o teste do tempo. Apenas dois filmes, se tanto, serão memoráveis e, na generalidade, não acrescenta nada ao género de terror. Tão-somente, surgiu no momento histórico certo, contribuindo para a expansão do cinema de terror asiático a ocidente. Três estrelas.

PS: O top está organizado por ordem de preferência descendente. 

Próximo Filme: "The Unseeable" (Pen Choo Kub Pe, 2006)

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