domingo, 16 de junho de 2013

"Paranormal Activity 2: Tokyo Night" (Paranômaru akutibiti: Dai-2-shô - Tokyo Night, 2010)


No princípio era o verbo, a palavra e depois a rima,
que provocou reacções como se fosse uma enzima.
No princípio era a tesão, a fúria e a sofreguidão,
depois veio a calma, procura do saber e a satisfação.

Da Weasel in Iniciação A Uma Vida Banal - O Manual 

Perdoem-me se comparo o “Paranormal Activity” a qualquer sensação parecida com prazer e bem-estar (na verdade não peço, não).  Se os da Weasel podem ir beber ao Evangelho de São João, não me parece desproporcional utilizar tais termos para o mais recente fenómeno do cinema de terror. Ele era o “melhor filme de terror da década”, ele era “arrepiante”, ele era a frescura por oposição aos anos de desgaste do subgénero torture porn, ingenuamente conduzida pelos criadores de “Saw” e o Eli Roth. E se acredito fortemente, que o sucesso de “Paranormal Activity” se deveu em parte a reboque do facto de as pessoas estarem sequiosas por uma nova experiência de terror, isto não o torna menos eficaz. A estória de um casal simpático acossado por forças invisíveis, que podia ser nosso vizinho, bebe-se de um trago ao contrário do sadismo exagerado de assassinos temíveis e sociedades secretas que engenham armas de tortura inacreditáveis. Isto, sem mencionar a “nova vaga” do cinema de terror francês (que já é nova há muitos anos) e o cinema japonês que já por aí anda há bastante tempo, sem lhe atribuir nomes sexy.
Eis pois, que o “Paranormal Activity” (2007) tem sucesso e logo surge a sequela japonesa não oficial, “Paranormal Activity: Tokyo Night” (2010). Não fosse estranha a mera colocação da hipótese de realização de uma sequela japonesa, que o percurso costuma ser inverso, Japão/EUA -, temos ainda produção e argumento em tudo similares, ou como diria a minha avozinha, “De boas intenções está o Inferno cheio”.
A pobre Haruka (Noriko Aoyama) regressa a Tóquio depois de umas férias nos EUA, onde teve um acidente de viação que a deixou com as pernas partidas. Sobre para o irmão mais novo Koichi (Aoi Nakamura) que está completamente obcecado com a mais recente aquisição para realizar filmagens tomar conta da convalescente. Assim que se instala para o caminho da recuperação Haruka começa a dar por objectos fora do lugar, barulhos estranhos, o sentimento de que não está só… E quer a sorte que os irmãos habitem um dos países com mais videovigilância do mundo. Estão a ver o mito do japonês com a máquina fotográfica?
Ora, se o ponto de partida é inteligente (o acidente de viação de Haruka tem muito que se lhe diga) é o desenvolvimento que fracassa. Sucede a mesma sequência de acontecimentos que vitimizam Katie e Micah do filme original. Numa análise fria Tokyo Night seria uma versão superior se fosse o primeiro filme na ordem cronológica já que o cineasta Toshikazu Nagae opta por livrar-se dos planos que minavam o ritmo de “Paranormal Activity”, e em que não acontecia nada, sem eliminar a tensão remanescente. Concebem a ironia de um filme japonês tomar a decisão de eliminar excedentes em prol do ritmo? Também a dupla de protagonistas é forte tendo bastante experiência em cinema e televisão e emulam com facilidade a naturalidade dos actores da película americana. Esta coisa de contracenar como se não o estivesse a fazer é o maior achado de sempre. Outro aspecto de nota é os personagens principais serem irmãos. Relembra-me de certo modo do “Jeepers Creepers” (2001) de cujo choque (o Darry não!), até hoje, ainda não recuperei. O foco no ângulo amoroso sobre o de laços familiares acaba por se tornar um elemento de falsidade no cinema. Desde quando é que vemos primos em 2º grau? Ou um tio e sobrinho afastados, por exemplo? Um pormenor técnico remotamente interessante é o recurso ao splitscreen (divisão do ecrã), que por momentos dá a ilusão de sermos voyeurs de uma experiência a decorrer em tempo real. De resto não há um elemento dissonante, um grito de desafio aos antecessores “Paranormal Activity” e “Paranormal Activity 2”, algo que chegue ao âmago das audiências e explique porque é que esta versão era necessária e acrescenta algo sobre o anterior. Ok, o destinatário principal é a população japonesa mas faziam alguma coisa diferente não? É mais do mesmo que conduziu à saturação de sagas anteriores, como o “Sexta-feira 13”, “Halloween”, “Nightmare in Elm Street”, “Saw”, etc, cujo sucesso inicial redunda sempre num remastigar orgíaco cíclico do pecado original. E a audiência? Amorfa, cansada, que procura algo mais do que a satisfação de encontrar o que reconhece de aventuras anteriores. No princípio era o hype. O fim? Só Deus sabe como termina. Duas estrelas e meia.

Realização: Toshikazu Nagae
Argumento: Toshikazu Nagae e Oren Peli
Noriko Aoyama como Haruka
Aoi Nakamura como Koichi

Próximo Filme: “Toilet 105”, 2010

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