domingo, 8 de setembro de 2013

"The Twilight Samurai" (Tasogare Seibei, 2002)


Hoje é dia de filme nomeado aos óscares. Isso traz sempre algum temor. É a aclamação justificada? Ou terão sido os críticos, no calor do momento, arrastados pelas opiniões positivas do outro lado do vasto oceano influenciados a louvar uma obra no máximo, mediana?
“The Twilight Samurai” inicia-se numa nota triste. Seibei Iguchi (Hiroyuki Sanada) perdeu a alegria de viver após perder a esposa amada. Enterrado na pobreza extrema, ele divide o tempo entre um trabalho burocrático, imagem longínqua da glória do samurai e o cuidar de uma mãe doente e filhas menores. Todos os dias, dia após dia, até ao final da vida. Até os colegas de ofício o já convidam para uma bebida após o trabalho por descarga de consciência. Seibei não é feliz nem parece querer sê-lo, contenta-se com o pouco que possui e os laços familiares, fortes. Ele sente a obrigação de tomar conta dos seus sem qualquer auxílio.
Está no crepúsculo da vida de guerreiro. Um pouco como os samurais por todo o país. A época dourada há muito que se foi. Não há espaço para o samurai. Resta-lhe definhar e morrer. Um pouco como a paisagem desolada que anuncia tempos de seca, doença e fome. As mesmas que vitimaram a sua esposa e às quais, apenas as famílias poderosas conseguirão resistir sem perdas. Eis que surge Tomoe (Rie Miyazawa), uma amiga de infância por quem nutriu um amor nunca concretizado, recém-divorciada. Empenhado em vingar a honra da antiga paixão, ele volta a pegar na espada de samurai. Se ele conseguir sobreviver, poderá ter a chance de um segundo momento de felicidade. Num tema tantas vezes tocado, como é a vida do samurai, a abordagem de Yoji Yamada é estranhamente original. O seu samurai encontra-se muito longe do anti-herói tradicional. Ele não almeja a fama ou glória mas uma existência pacata com os seus. Descura até a sua própria higiene. A mãe e as filhas encontram-se em primeiro lugar. Seibei é mais feliz quando a sua família tem comida na boca do que quando parte numa missão ordenada pelo lorde do seu clã. Ele foge à responsabilidade da hierarquia enquanto pode e, poderia ser apelidado cobarde mas é um homem que reconhece as suas limitações e apenas quer desfrutar de uma existência confortável. Por isso, ele é dotado de humanidade extrema, tornando-o, digno de afeição aos olhos da audiência. Desejamos que ele se torne o homem que deve ser e que tenha uma segunda oportunidade na vida com a mulher que ama. E a sua honestidade e humildade quase se tornam o seu pior inimigo, considerando-se inferior às perspectivas que se lhe apresentam. O seu segundo inimigo acaba por ser a próprio clã em que está inserido, o que lhe proporciona pão mas poderá, em qualquer altura enviá-lo para a morte, pela recusa em admitir a mudança dos tempos.

Existe um sentimento de desolação inerente à película apenas ultrapassado pelo calor das interacções dos personagens. Seibei apenas se permite mostrar emoções quando está com as filhas, com Tomoe, os sentimentos estão implícitos. À sua volta é apenas morte, desespero, resignação, desilusão. Como não agarrar-se ao que há de mais precioso?
“Twilight Samurai” se sofre de algum mal é o da subtileza. Há o perigo de se deixarem enlevar pela ideia do espadachim. Este não é um desses filmes. Aliás, é um dos poucos que não enveredam por esse caminho e antes se focam numa altura menos áurea: o fim do Japão feudal e o início Japão moderno. Em última análise, “The Twilight Samurai” é um daqueles filmes modestos que nos apanham de surpresa para se tornar um dos grandes filmes que tivemos a feliz oportunidade de assistir. Justíssimo nomeado para os maiores prémios da 7ª Arte. Quatro estrelas.

Realização: Yoji Yamada
Argumento: Yoji Yamada, Shuhei Fujisawa e Yoshikata Asama
Hiroyuki Sanada como Seibei Iguchi
Rie Miyazawa como Tomoe
Nenji Kobayashi como Choubei
Ren Ohsugi como Toyotaou Kouda
Mitsuru Fukikoshi como Michinojo
Miki Ito como Kayano Iguchi
Erina Hashiguchi como Ito Iguchi
Reiko Kusamura como mãe de Seibei

Próximo Filme: "The Twilight Samurai" (Rab Nong Sayong Kwan, 2005)

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