domingo, 21 de dezembro de 2014

"The Protector" (Tom Yum Goong, 2005)


Sejamos honestos, o Tony Jaa é um péssimo protector. No “Ong Bak” (2003) foi incapaz de evitar que roubassem a cabeça da estátua de um Buda apesar de esta ser tipo enorme, em “The Protector” ele consegue, não sei como, perder uma cria de elefante que era tarefa sua proteger. Mas se um vilão ofender o vosso irmãozinho pequenino ou raptar o vosso gato bebé ele é a pessoa certa para a tarefa. Para uma referência mais actual, considerem-no um Liam Neeson mais inepto nas palavras mas que executa na perfeição alguns dos espancamentos mais brutais a que já tiveram oportunidade assistir.

Tony Jaa é Kham, o último descendente numa linha de guardiões dos elefantes da família real Tailandesa. Durante as comemorações de um festival e aproveitando a confusão do grande afluxo de gente, uns malfeitores, com a conivência de um ilustre cidadão local aproveitam para roubar o membro mais novo da família de elefantes e atingem o pai de Kham com um tiro. Como podem imaginar o Tony Jaa fica muito zangado. Ao ponto de viajar até ao outro lado do mundo para ir resgatar o seu elefantezinho e vingar o ataque ao pai. Ele não viaja efectivamente até ao outro lado do mundo, até porque a Austrália é logo ali, mesmo ao pé da Tailândia (vá, quase), mas é bonito pensarmos que sim. Lá, ele depara-se com um estranho mundo novo, não só porque parece um peixe fora de água – ele fazia flexões nos dentes de um elefante afinal de contas –, mas é um país onde a língua é estranha e a confluência de novos estímulos é avassaladora. Para sua “alegria”, o mundo do crime mantém a conexão com a cultura que conhece ou não fosse o bandido, dono do restaurante “Tom Yum Goong” (um prato tradicional tailandês) e quem lhe dá guarida é Pla (Bongkoj Khongmalai) uma tailandesa atraída para as malhas da prostituição no exterior.

“The Protector” toca em tudo quanto são assuntos mas não se foca em nenhum: o tráfico de seres vivos e de arte; as dificuldades de adaptação dos imigrantes a uma nova cultura, sistema de justiça e religião; a prostituição forçada de mulheres estrangeiras… Kham apenas quer o seu elefante. Mas não se preocupem que a ligação de ambos é mais forte do que possam imaginar. É histórica e espiritual. Por isso, Kham encontra-se disposto a espalhar mortos e feridos por toda a Austrália se tal for necessário para chegar até ele. À boa maneira deste tipo de filmes, os bandidos não têm uma grande apetência para as armas de fogo se não, ao fim de dez minutos já não haveria estória para contar. É que Kham é um incómodo daqueles que mais valia recorrer a uma metralhadora do que ir contratar os lutadores mais brutamontes (e incompetentes e caricaturais) que já se viu. Na maior parte e a despeito de pontualmente se deparar com uns quantos adversários de valor, eles são francamente ineficazes contra o muay thai quebra articulações de Kham. Nm dos momentos mais fascinantes e brutais, para quem vê e para os duplos, Kham atravessa um edifício inteiro e, em particular, sobe uma escadaria num impulso decisivo e destruidor. Tudo quanto se atravessa no seu caminho é empurrado, esborrachado e, enfim, trucidado. Eu não queria ser um daqueles duplos! Esta cena providencia um instante espantoso se pensarmos na perfeição da coreografia que envolveu dezenas de intervenientes e a mestria de Prachya Pinkaew que optou por captar a cena num único take. O que pensando bem, poderá até ter constituído um dos momentos cinematográficos inspiradores do não menos superior “The Raid 2: Berandal” (2014). “The Protector” é igual a todos os filmes de artes de marciais remanescentes na medida em que temos de nos convencer com todas as nossas forças que o que estamos a assistir podia acontecer. No entato, é um deslumbramento admirar a destreza, o portento físico dos seus intervenientes. Denota-se um esforço real por parte da equipa em mostrar um produto excitante. Não é a acção chapa 5 de um “Kickboxer 33” ou um “Bloodsport 15”. Pretendem mesmo que apreciemos um filme onde o prato principal é pancada até mais não. Três estrelas.

Realização: Prachya Pinkaew
Argumento: Napalee, Piyaros Thongdee, Joe Wannapin, Kongdej Jaturanrasameee Prachya Pinkaew
Tony Jaa como Kham
Mum Jokmok como Inspector Mark
Xing Jing como Madam Rose
Johnny Tri Nguyen como Johnny
Bongkoj Khongmalai como Pla
Sotorn Rungruaeng como pai de Kham
David Asavanond como Rick

O melhor:
- Se gostam e esperam brutalidade no seu modo mais cru, da oferta moderna pouco existe de superior a “The Protector”
- Coreografia das cenas de artes marciais no seu melhor

O pior:
- A versão Weinstein conseguiu comprimir um bom filme de 110 minutos num de 85. A evitar.
- Mortos e feridos por um elefante poderá custar a engolir a alguns
- Tony Jaa não é propriamente um actor Shakespeariano. Encontra-se mais próximo do Arnie acabadinho de chegar aos EUA, oriundo da Áustria.

Próximo Filme: "The Thieves" (Dodookdeul, 2012)

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