domingo, 8 de fevereiro de 2015

"Sleepwalker 3D" (Meng you 3D, 2011)


Os sonhos são uns sacanas. Uma pessoa trabalha como uma escrava, tendo por vezes apenas por miragem o sonho de um banho quente e de uma refeição consistente, o mínimo que pode desejar é um sonho reconfortante certo? Nada disso. Os sonhos são a porcaria da recompensa mais inconsistente e desconfortante de todas. Diz que é o espelho do subconsciente, aquele bocadinho de matéria que jaz dormente que surge para nos dizer: “há questões dolorosas, mal resolvidas, que convém explorar neste preciso período em que estás especialmente cansado e angustiado”.
A vida de Yi (Angelica Lee) revolve à volta deste ciclo pernicioso. Ela tenta apanhar os cacos da sua existência após a morte da filha e falha todos os dias. À noite é assaltada por sonhos nos quais uma criança é enterrada num bosque. De manhã, acorda como se tivesse estado acordada durante toda a noite e com as mãos cheias de terra. Com o desaparecimento do ex-marido, Yi começa a temer que tenha tido algo a ver com o caso. Entretanto, Peggy (Charlie Young) está a enfrentar um pesadelo que Yi conhece demasiado bem, o filho desapareceu e com o tempo a passar a esperança torna-se ténue. Com o apoio da detective Au (Huo Sien), Yi compromete-se a dar apoio à investigação. Se os seus sonhos tiverem uma pista para o paradeiro da criança ela irá auxiliá-la ainda que isso possa significar que é culpada do rapto e possivelmente homicídio.

A ideia do sonambolismo é tão tentadora quanto atemorizante mas nas mãos dos irmãos Pang é igualmente excitante. A metade dos irmãos Pang conhecida por Oxide recruta caras conhecidas para mais uma aventura a solo: a sua eterna musa Angelica Lee e Decha Srimantra, cinematógrafo que o acompanhou em quase todos os filmes que realizou até ao momento. É uma garantia reconfortante saber que pelo menos uma das actuações será sólida e que nos aguarda um espectáculo visual, o que é mais que a maioria das películas nos oferece. Oxide diverte-se com as possibilidades de “Sleepwalker 3D” mas não existe um verdadeiro foco. O 3D, à semelhança de tantas outras experiências anteriores e já posteriores mais se assemelha a um acessório que nem era necessário, nem acrescenta um contributo válido para a estória e é escasso. Os motivos de interesse são outros, incluindo a técnica simples mas que sempre funciona da imagem a preto e branco com um toque de cor, matizes azuladas e breves animações nas sequências de sonho. Angelica é a melhor das três protagonistas e parece genuinamente afectada pela perda pessoal, a possibilidade de possuir uma faceta negra e… uma peruca terrível. Estou em crer que algumas das suas lágrimas se devem aquela coisa vermelha que lhe colocaram na cabeça no lugar de peruca e ninguém me convence do contrário.
Ela é uma alfaiate com um estilo pessoal alternativo pelo que não é como se o cabelo vermelho fosse uma opção estética fora de série. No entanto, a caracterização distrai em algumas cenas importantes. A sério que não tinham orçamento para dar à belíssima Angelica um penteado decente? A par com o cabelo estão uma série de desempenhos muito abaixo do nível de aceitabilidade para um grupo de teatro amador. As mulheres fazem o que podem com aquilo que têm. Os homens nem sequer tentam. Este é o calcanhar de Aquiles de qualquer dos irmãos Pang. Eles dedicam mais atenção às suas actrizes e, sobretudo, às que interpretam as protagonistas que ao resto da equipa de actores. Os primeiros filmes da sua carreira e o thrillers “The Detective” (2007) e “The Detective 2” (2011) constituem notáveis excepções. A aparente ausência de preocupação com o casting tem sido uma das críticas consistentes para não possuam uma reputação superior à que por ora possuem e as suas obras fiquem sempre aquém do potencial inicial. O segundo grande mal de “Sleepwalker 3D” é os subenredos que acompanham a narrativa principal que todos os juntos, não parecem fazer grande sentido: ex-maridos desaparecidos, irmãs com uma relação complicada, mulheres em coma… Uma grande série de nada, que não leva a nenhum lado em particular. A prova de que não têm relevância para a estória e apenas contribuem para gerar ruído é o habitual, dispensável, irritante e arrogante flashback para explicar os acontecimentos. Uma estrela e meia.

O melhor:
Os passeios nocturnos de Yi
Os sonhos
Cinematografia
Angelica Lee

O pior:
A peruca da Angelica Lee
A identidade do vilão é óbvia.
É mesmo para dormir… sem direito a sonambulismo.
3D, para que serves tu?


Realização: Oxide Pang Chun
Argumento: Oxide Pang Chun e Thomas Pang
Angelica Lee como Yi
Charlie Young como Peggy
Huo Sien como Detective Au
Li Zong Han como Eric

Próximo Filme: Babangluksa, 2011

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