quinta-feira, 14 de setembro de 2017

“Notas de um Festival de Cinema de Terror” – Parte um


Um Festival, doze filmes. Desde 2011, com a interrupção de um ano (2013) em que valores mais altos se levantaram (temos pena mas férias), que não falho um ano. Nem sei se este foi o ano mais prolífico em termos de sessões do Motelx – ainda assim foram 12 bolas! – mas não foi, apesar das expectativas, a melhor edição de sempre. Ainda assim, e como bem diz a expressão popular, o melhor estava guardado para o fim e não, não me refiro ao fenómeno IT (2017)!

Sessão de Abertura

"Super Dark Times" (2017)

Depois de uma sessão de apresentação mais convencional viramo-nos para o que o Motelx sabe fazer melhor: dar a conhecer gemas indie que nos dão um murro no estômago que perfura a pele, revira as tripas lá dentro e as puxa para fora. “Super Dark Times” é o título hiperbólico e um pouco cómico de uma película com muito pouco de jocoso. Zach (Owen Campbell) e Josh (Charlie Tahan) –, este último digam lá se não é a cara chapada da Martha Plimpton? -, São um duo de amigos que passa os dias entre ir para a escola, percorrer os terrenos da sua pacata vila de bicicleta e inventar passatempos. Falam de raparigas, de rufias, de jogos de vídeo. Nada de extraordinário. Um dia decidem quebrar a rotina juntando-se a dois miúdos que não conhecem bem, Charlie (Sawyer Barth) que é o irmão mais novo de uma colega de escola e Daryl (Max Talisman), um puto ruidoso e malcriado que faz qualquer pessoa com um mínimo de sanidade mental, questionar por que querem sequer estar na sua companhia. Ânimos exaltam-se, um acidente sucede e Daryl acaba morto. O pânico toma conta dos adolescentes que decidem ocultar o que se passou. Mas retomar a vida normal é mais difícil do que uma decisão extemporânea podia fazer parecer e a pressão quebra de formas diferentes Zach e Josh.

“Super Dark Times” é, como o próprio nome indica, super negro. Faz refletir sobre os arrependimentos e faz perguntas difíceis como quão “para sempre” são de facto os laços de amizade que tínhamos como inquebráveis, se conhecemos tão bem como pensamos aqueles que têm estado nas nossas vidas desde sempre e se seríamos capazes de tomar aquelas decisões nas mesmas circunstâncias. Nota-se a ausência de interferências externas na vida destes adolescentes. Eles são acriançados, idiotas, borbulhentos, envergam pêlos solitários à laia da existência de bigode e tiram macacos do nariz. Comportam-se tal e qual os adolescentes da vida real. Tudo isto pontuado por uma imagética muito reminiscente de “Stranger Things” (e este nem foi o primeiro filme do festival a fazer eco de uma série que é a autêntica definição de hype), com o teen spirit inquieto e depressivo dos anos 90, numa idade que é, para todos, francamente estranha. Pode uma má acção definir-nos para o resto da vida? Agora imaginem uma culpa dessas cair sobre os ombros ainda não muito largos de adolescentes que nunca saíram da sua concha e do seu pequeno vilarejo. “Super Dark Times” é em última análise traído pela sua própria vontade de ser original, quando já o era desde o inicio, (o tema era lúgubre o suficiente para necessitar de invocar os excessos típicos do género de terror). “Less is more”. O desvio de 45º perto do final não deixa de ser, no entanto, uma decisão corajosa numa estreia cinematográfica muito competente de Kevin Phillips. Três estrelas.

Próximo Filme: “Notas de um Festival de Cinema de Terror” – Parte dois

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