sábado, 2 de abril de 2011

"Dream Home" (Wai dor lei ah yut ho, 2010)


Dream Home é um filme que joga com o desejo que, mais tarde ou mais cedo, todos sentem de possuir casa própria e o explora obsessivamente. O filme, originário de Hong Kong, é realizado por Pang Ho-cheung que também co-escreveu o guião. A actriz principal é nada mais nada menos que Josie Ho, filha do magnata dos casinos Stanley Ho, que produziu o filme através da sua própria companhia, a 852 Films.
É dos poucos filmes asiáticos em que consigo antever uma versão hollywoodesca. Muitos dos filmes Made in U.S.A. pecam por pegar em conceitos e lendas urbanas com os quais os ocidentais não estão familiarizados. No entanto, o filme insere-se no contexto da crise imobiliária, o que me parece, perfeitamente, adequado à realidade norte-americana.
A premissa é muito simples: a jovem Cheng Lai-sheung (Josie Ho) sempre quis ter um apartamento com vista para o mar e tenta por todos os meios conseguir a casa que sempre desejou. O filme apresenta uma série de contratempos e de obstáculos que teimam em atravessar-se entre ela e o seu destino testando a sua paciência até ao ponto de ruptura. Numa cidade poluida, feia e furiosa o apartamento à beira do rio, o nº1 em Victoria parece um corte com toda a podridão que a rodeia e a salvação que ela almeja.
Embora, se descubra bem cedo na história, o plano tenebroso traçado por Cheng para atingir o seu derradeiro objectivo, o guião insiste em remeter-nos para épocas distantes, em que Cheng era apenas uma criança inocente cheia de sonhos e de como o mundo pode ser cruel para quem não possui meios financeiros. A esse propósito vão surgindo diversos papões: mafiosos que atiram cobras para casa das pessoas para as expulsar de casa e as companhias de seguros, com as suas cláusulas mais do que dúbias.
Mas todas as personagens são secundaríssimas, e não são mais do que peões num jogo, que procuram impedir, mais do que ajudar Cheng a atingir um fim. O guião não deixa grande espaço para empatizarmos com elas tirando talvez a mulher grávida devido à sua condição e mesmo assim, se esquecessemos esta questão não gostariamos muito dela. Talvez seja um meio que os cineastas encontraram de nos induzir a principiarmos algum tipo de empatia com Cheng.
Para quem procura gore, há mais do que suficiente. Tem uma das mortes mais originais que tenho visto nos últimos tempos, estrado da cama anyone? e as próprias mortes, que as há e bastantes, servem de pretexto aos poucos momentos de comédia existentes.

Chegado o fim do filme não simpatizamos com Cheng, a mulher é amoral, mas percebemos as suas motivações. O guião é competente e original no modo como aborda a crise imobiliária e a extensão em que a personagem principal se move para conseguir comprar o apartamento. O filme foi relativamente bem acolhido pela crítica e eu admito que se fosse ontem, talvez mesmo há dois dias atrás, lhe atribuiria quatro estrelas. Há medida que os dias passam, "Dream Home" perde a qualidade inicial que lhe apreciei. Os filmes excelentes não diminuem de qualidade, os bons sim. Por isso, hoje só leva 3 estrelas e meia.

Próximo: "Shutter", 2004

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