domingo, 1 de maio de 2011

"Bedevilled" (Kim Bok nam salinsageonui jeonmal, 2010)

Quando acabei de ver o filme, só conseguia pensar, pobre Bok-nam, quanta dor uma mulher pode suportar. Logo seguido de perto por: acabei de ver um exploitation movie? Procurei um trailer com legendas em inglês mas este é daqueles filmes que não precisa. Os cineastas foram hábeis a revelar sem mostrar demasiado. "Bedevilled" tem uma premissa simples. A nossa história começa com Hae-won (Seong-won Ji), uma mulher com nervos à flôr da pele que não aceita desaforos de ninguém, mesmo quando são por ela imaginados. O seu mau feitio é de certo modo tolerado porque é uma profissional eficiente mas quando as suas façanhas no trabalho se tornam insuportáveis, Hae-won é forçada a tirar umas férias. Para tal, escolhe nada mais nada menos, que uma ilha minúscula, onde costumava ir visitar os seus avós em criança. Lá fez uma amiga, que ainda hoje lhe envia cartas, às quais não se dá ao trabalho de ler. Essa amiga é Bok-nam (Yeong-hie Seo), de uma infantilidade adorável. Ela não demonstra sinais de ressentimento em relação a uma Hae-won, para quem a amizade só parece interessar, para tornar a estada na ilha mais agradável. Esta, percebe rapidamente que a ilha, apesar da sua aparência paradisíaca é um antro de todo o tipo de abusos e sevícias a Bok-nam, os quais ela parece suportar estoicamente. Na sua condição de mulher atraente e com força para trabalhar é submetida a todo o tipo de abuso e humilhações físicas e sexuais dos homens na ilha, e forçada a trabalhar de sol a sol no cultivo de batatas, pelas "Tias". Estas, são uma espécie de hárpias, das quais, a "chefe" é uma figura tão masculinizada, que até cerca de metade do filme pensei que era um homem. Na sua argumentação sustentada por um clima de impunidade e ausência de influências vindas do exterior, Bok-nam deve aguentar e calar-se porque essa é a sua condição como mulher. Este ideário choca profundamente Hae-won, uma mulher cosmopolita e instruída de Seul, que apesar de tudo se recusa a intervir perante tamanha injustiça. A película fez-me recordar por inúmeras vezes, Rousseau e o seu mito do "Bom Selvagem". O homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe. Ora, como pode uma pequena pedra tão cheia de nada, despertar seres tão malévolos? Há um demonizar dos personagens da ilha e, em particular, uma aversão aos membros do sexo masculino.
Bok-nam no meio de toda a miséria que lhe é imposta por meia dúzia de brutos, parece não desistir e até possuir uma estranha alegria de vida alimentados pelos seus maiores tesouros: o sonho de ir viver para Seul e a sua filha Yeon-hee (Li Ji-eun-i). Enquanto estes dois persistirem nada poderá quebrar Bok-nam...
Temo que Bok-nam ficasse desiludida com Seul. Logo no inicio do filme, fica bem patente que a cidade não é nenhum paraíso. O mal tem muitas caras, seja no rufia de Seul, no bruto nativo da ilha e choque-se, na donzela branca, indiferente ao sofrimento alheio. Seul é também uma selva urbana, de intrigas de escritório, onde são mais importantes os artifícios psicológicos que as capacidades físicas necessárias para subsistir na vida. Afinal, a magia de Seul não vai além do sonho e é bom que a imagem assim permaneça para Bok-nam.
Mas, "Bedevilled" sempre é uma história de vingança e a certa altura, o equilíbro instável que existe na ilha é eclipsado. Aí, tudo pode acontecer.
Deste filme pode-se retirar algo das intenções dos cineastas. Para eles era mais importante dar-nos a conhecer a história por detrás da vingança do que o seu acto de execução. Por isso, se estiverem à espera de 10 minutos de backstory, irão ficar desiludidos. Só para o fim é que esta se desenrola. Asseguro que quando chega a altura nada os detém: há gore a rodos. O final, que eu não vou revelar, é um grande duche de água fria, mas traz a percepção e a redenção. Talvez até a esperança num futuro melhor. Somos assaltados pelo facto de a história não ser, nem nunca ter pretendido ser acerca das Bok-nam's deste mundo mas das Hae-won's, de quem, em última instância, o seu futuro pode depender. Pelo invulgar desenvolvimento de uma história de vingança e pelas brilhantes interpretações dos actores "Bedevilled", recebe três estrelas e meia em cinco.
Realização: Jang Cheol-So
Argumento: Kwang-young Choi
Elenco:
Yeong-hie Seo como Kim Bok-nam
Seong-won Ji como Hae-won
Jeong-hak Park como Man-jong
Ji-eun-i Lee como Kim Yeon-hee
Próximo Filme: "Tamami - The Baby's curse" (Akanbo shôjo, 2008)

3 comentários:

  1. O Cinema sul-coreano é de vingança, violência, extremos. Interessante, porém, é ver como, assim como isso é quase uma constante, os cineastas sempre buscam contextos relevantes onde inserir tais temas. BEDEVILLED, assim, é mais um ótimo exemplar de um Cinema implacável, de catarses frustradas, de filmes ímpares. [7/10]

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  2. Também já me indicaram esse filme e tenho muita vontade de ver.

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  3. assisti hoje o filme, confesso que qndo começei a ver não esperava nada do filme, que seria apenas mais um filme que serviria apenas para durmir, mas qndo dei conta ja estava tão ligado no filme que não consegui parar de ver, gostei bastante do filme e vale a pena assistir.

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