quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Tamami - The Baby's Curse" (Akanbo shôjo, 2008)

AVISO: Este Trailer contém spoilers!

Tamami é uma grande brincalhona. Ai é, é. "Ta-ma-mi" (dizer com voz embevecida - depois de verem o trailer/filme percebem). Tamami é baseada na manga "Akanbo shôjo" de 1967, do mestre do horror japonês Kazuo Umezu. Infelizmente, para nós, os cineastas decidiram abandonar qualquer subtileza e foram gráficos, no nome da película e no trailer. Por isso, podem já riscar suspense da lista. Em contrapartida, os minutos iniciais, isto para quem não viu o trailer nem se pôs a tecer considerações sobre o nome do filme, quase que poderiam induzir a pensar que este é um filme de mistério.
"Tamami", inicia-se numa noite tempestuosa com a jovem Yoko Nanjo, a adorável Nazo Mizusawa, a chegar a casa dos seus pais, após passar 15 anos num orfanato. Yoko, está extremamente nervosa, e é difícil não empatizar com a sua situação. A adolescente acabou de descobrir que afinal não foi abandonada mas que os seus pais a perderam em bebé e passaram todos aqueles anos à sua procura.
Contudo, a sua recepção é tudo menos feliz, chega numa noite escura e tempestuosa a uma mansão gótica, onde não está ninguém para a receber. Passado pouco tempo, começa a ouvir sons estranhos... dando origem a uma das melhores cenas do filme.
Talvez seja só de mim, mas um quarto cheio de bonecas e, daquelas de porcelana, em particular, é francamente assustador. Se fosse eu, tinha ficado quietinha no meu canto, não tinha ido averiguar o que era aquele som e muito menos me iria enfiar num quarto com bonecas a olhar para mim! Mas lá está, é um filme e nos filmes, eles nunca fazem o que nós, pessoas sensatas faríamos. A partir desta cena, a qualidade do filme vai sempre a decaír até ao desenlace final. O realizador (Yudai Yamaguchi) não se contenta com breves relances e parte para o explícito como se o mistério ao invés de mais-valia, fosse um empecilho no seu caminho.
No entanto, a película tem excelentes apontamentos: a velha governanta (Etsuko Ikuta), sempre vestida de negro com cabelo cor de neve faria a Daphne du Maurieur orgulhosa desta Mrs. Danvers dos tempos modernos. Os irmãos Grimm também estão muito presentes: a roseira espinhosa, a bela Yoko que faz lembrar uma Branca de Neve em ponto pequeno, um jovem que se autodenomina seu protector sem qualquer obrigação moral a tal faz um conveniente princípe, a mãe "ausente", a cena em que é folheado um livro de conto-de-fadas...
Quanto a Yoko, ela sofre desilusão atrás de desilusão. A família na qual foi aterrar está cheia de problemas que não são dela, mas que também são provocados, em parte pela sua chegada. O seu pai (Gôro Noguchi) só tem, literalmente, olhos para ela, o que traz tensão nas relações entre os adultos. Inicialmente, até pensei que a governanta possuísse algum tipo de ascendente sobre ele, dadas as liberdades a que ela se dá para com o chefe. Esta também é rápida a mostrar a Yoko que não é bem-vinda e que faria melhor ir-se embora. Assim, dito parece cruel mas em última análise, talvez ela tenha razão. Por outro lado, temos uma Yuko (Atsuko Asano), mãe de Yoko, que durante o filme, parece nunca a ver realmente. Ela passa os dias a afagar um peluche, que faz as vezes do bebé que nunca pode acaríciar. Yuko sofre de algum tipo de perturbação mental, que pensamos nós, se deve ao facto de nunca poder ter sido mãe. Assim, vagueia pelo jardim e pela grande mansão, cantando uma canção infantil, enquanto embala o seu filho peluche.
Nisto tudo, notem que mal mencionei Tamami. Se o filme gira em seu redor, não é menos verdade que são as circunstâncias provocadas pelos assuntos mal resolvidos dos adultos que provocam a sua revolta. E depois chega uma bela Yoko para tomar o seu lugar. Tamami é rejeitada, uma e outra vez, como Yoko se sentira durante 15 anos. Ainda que não a desculpe, de modo algum. Nos instantes finais do filme marcado por um triste momento de ternura, ficamos a pensar que tivessem os adultos agido de modo diferente muitas situações trágicas seriam evitadas.

É por estes pequenos pormenores assim como a capacidade dramática dos actores, que me pergunto como pode "Tamami", alternar entre o horror dramático e o horror cómico. A aposta seria ganha facilmente, não fosse o entrar no espectáculo ridículo do gore desnecessário. Para ser um bom filme de horror não precisa de mostrar tudo! E para ser um filme de splatter, convenhamos que o assumam desde o início para não entrarmos em envolvimentos emocionais desnecessários para com as personagens. "Tamami" dança instavelmente entre estas duas realidades. Por tudo isto, o filme não vale ouro mas apenas duas estrelas e meia.

Realização: Yudai Yamaguchi
Argumento: Kazuo Umezu (manga), Hirotoshi Kobayashi (argumento)
Elenco:
Nazo Mizusawa como Yoko Nanjo
Gôro Noguchi como Keizo Nanjo
Atsuko Asano como Yuko Nanjo
Etsuko Ikuta como Sue Kii

Próximo Filme: "Sacred" (Keramat, 2010)

2 comentários:

  1. Não sei porquê mas fiquei com curiosidade de ver este. Talvez seja porque desde miúda tenho medo de bonecas. É estranho mas é verdade.
    E antes que me esqueça, concordo plenamente com o comentário que fizeste no meu blog: o Liam Neeson é mesmo como o vinho do porto. Quanto mais velho melhor. Adoro-o.
    E só cá para nós, parece que ele vai começar a gravar o Taken 2. Ainda bem, pois adorei o primeiro.

    www.cinemofilia.blogspot.com

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  2. Nesse caso vais "gostar" da dita cena. Eu compreendo esse medo, as bonecas porcelana para mim, são especialmente creepy.
    Quanto ao Liam Neeson, adorei o seu ressurgimento no cinema mas não estou a ver como vão conseguir fazer funcionar um Taken 2. Quanta sorte pode um homem ter duas vezes? Quando transformam filmes em séries cinematográficas em que os heróis são infalíveis, a coisa perde a piada inicial.

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