quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Julia's Eyes" (Los Ojos de Julia, 2010)

"Julia's Eyes" é a minha mais recente incursão no cinema espanhol. Diz-se por cá que "De Espanha, nem bom vento nem bom casamento", o que me parece tudo muito bem desde que não incluam o cinema. Esta é apenas a segunda longa-metragem de Guillem Morales e também é uma aventura no imaginário do thriller/terror psicológico. Claro que o facto de ter um Guillermo del Toro a emprestar o nome à produção ajuda. Ele que foi igualmente produtor no bem conseguido "The Orphanage" (2007), curiosamente com a actriz Belén Rueda. Nem tudo o que reluz é outro mas aplicado a Guillermo del Toro, quase.
"Julia's Eyes" segue a história de Júlia que sofre de uma condição genética que a levará inevitavelmente à cegueira. Quando a sua irmã Sara, já cega, visto que também sofria da doença, é encontrada enforcada, Júlia questiona a conclusão da polícia de que se trata de um suícidio. Contra os desejos do seu marido Isaac (Lluís Homar) que teme que ela tenha um ataque que a deixe cega de vez, Júlia decide investigar o caso. À medida que se aproxima da verdade, Júlia convence-se de que está a ser observada e que por detrás da morte da irmã se esconde um terrível segredo... Se a sinopse parece igual a tantas outras, o desenvolvimento da narrativa é mais compensador e intrigante por comparação. O trabalho de câmara está brilhante, albergando todo um conjunto de jogos de sombras que veículam a sensação de cegueira que a personagem está a sentir e nos levar a questionar se o que vemos é real. A complementar a direcção de Morales está a cinematografia de Óscar Faura, com uma palete de cores totalmente ajustada a um clima de tensão e claustrofobia crescente.
A liderar o elenco está uma Rueda quarentona que põe a um canto muitas mulheres com metade da idade. O que me leva a uma questão pertinente: o que é que se passa com as mamas da Belén? Elas surgem firmes e hirtas em quase todas as cenas como que a anunciar quem é ali a estrela. Em cenas de frio e de chuva intensa, cheguei a temer que um dos seus mamilos saltasse e atingisse a audiência num olho! Não deixa de ser um truque cinematográfico deliberado de flirt com a audiência masculina mas aqueles peitos distraem! Considerações físicas à parte, Rueda é a protagonista forte que o filme necessitava. Sabe ser uma mulher de recursos quando a vista lhe falha, resiliente na sua luta pela verdade e ao mesmo tempo vulnerável. Mas não tenham pena dela, que Júlia não é uma mulher indefesa e muito menos de quem se sinta pena. A minha única crítica vai para a pouca afectação pela morte de entes queridos. É que Júlia passa o tempo todo à procura da verdade no que toca à morte da irmã mas ao longo da película, ela não a chora nem sequer recorda. Aliás, quando Sara morre, elas já não mantinham o contacto há alguns meses. Mas para mim, a grande estrela do filme é Pablo Derqui. Quando cada centímetro da tela é preenchido pela face de Pablo, podemos ver olhos raiados de loucura. Sentimos que ele não está a olhar para uma personagem qualquer, está a olhar para nós. E a química que tem com Rueda é muito boa.
Segunda questão: qual é a fixação com caves? Não se pode matar uma pessoa, digamos, numa cozinha ou num hall de entrada? Porque é que têm de ser sempre caves? É prevísivel que algo vai correr mal porque sempre sucede algo de mal numa cave! Lembram-se de "The orphanage"? Outro aspecto que pode ser questionado é a duração da película. Duas horas podem ser cansativas mas apreciei a consideração pelo desenvolvimento da história a um rítmo muito próprio sem precipitação de acontecimentos. Me gusta. Três estrelas e meia.

Realização: Guillem Morales
Argumento: Guillem Morales e Oriol Paulo
Elenco:
Bélen Rueda como Júlia/Sara
Lluís Homar como Isaak
Pablo Derqui como Iván
Próximo Filme: "Body #19" (Body sob 19, 2007)

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