quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Donnie Yen em Dose Dupla! "Ip Man 2" (Yip Man 2, 2010)

Ip Man fugiu para Hong Kong depois de um incidente que trouxe uma tremenda humilhação dos invasores japoneses. Desta feita são os ingleses que mandam na cidade e Ip Man terá de reunir forças para enfrentar as sucessivas ofensas deste povo, enquanto luta pela sobrevivência dos que ama. Ip Man entende agora o potencial do Wing Chun e mantém a custo uma escola de artes marciais para jovens chineses.
Em Hong Kong grassa a corrupção com os ingleses a deixar os mestres locais manter os seus negócios a troco de dinheiros e favores. Claro que os donos de escolas de artes marciais não vêem com bons olhos a chegada de um concorrente. Pior que isso: Ip Man é honesto. Aborrecidos com a atitude desafiadora do instruso, levantam obstáculos à existência da escola. Então, Ip Man que apenas pretende ganhar a vida e manter uma actividade honesta, tem mais uma vez de utilizar o Wing Chun. Isto dá origem a uma série de lutas maravilhosamente coreografadas por Sammo Hung, que também desempenha um dos mestres rivais. Curiosamente, Hung sentiu-se mal durante as filmagens de "Ip Man 2" e foi mesmo operado ao coração, após o que voltou à rodagem das exaustivas cenas de luta. Pergunto-me se as cenas captadas em filme, de um Sammo Hung exausto, não correspondem ao drama que se operava na vida real. A atitude deste senhor é tanto mais extraordinária se considerarmos que ele, longe de ostentar a melhor forma física, mantém uma agilidade supra-normal. O confronto entre os mestres do Kung Fu chineses dá direito a uma das melhores sequências de luta do filme... em cima de uma pequena mesa redonda! Se não gostam de filmes moralistas façam fast forward mas não deixem de apreciar esta cena. Magnífica! À semelhança do primeiro filme, a primeira meia hora é leve e despreocupada. Num cenário de guerra e de grandes dificuldades para os cidadãos chineses, eles perdem tempo em escaramuças e brigas que em nada contribuem para a unidade contra o inimigo. Sobrevivem atormentados pelo dilema entre a colaboração com o inimigo, pondo comida na mesa das sua famílias ou enfrentá-lo e arriscar a perda do que lhes é mais querido. Para alguns, esta realização surge tarde demais, para outros, a atitude heróica de uns poucos coloca um ponto final na constante humilhação do invasor. Mais, uma vez os bad guys são mesmo really bad guys. Assistimos ao estereótipo do inglês arrogante, snob, com maus dentes.
É incontornável. O argumento retrata o inglês como um ser odioso. Em "Ip Man 2" a encarnação do mal é o boxer inglês "Twister" (Darren Shalavi), que veio a Hong Kong para demonstrar as suas capacidades atléticas e dar porrada nuns macacos. Não sou eu que o digo, é ele. Aviltante. Odiei-o. Acho que não odiava um personagem tão intensamente desde que o Joaquín Phoenix interpretou César no "Gladiator" (2000). Quase que tenho pena do Darren Shalavi. Temo que a sua reputação tenha sido irremediavelmente destruída junto do povo chinês e que este papel o condene a papéis-tipo, apesar da representação não ser o seu forte. Darling, fica-te pelas cenas de pancada, sim? Os melhores desempenhos vão para personagens secundárias divididas entre o dever para com o país e a sobrevivência. Por comparação, Ip Man surge mais fraco que no primeiro filme. Lamento que no primeiro filme em que Ip Man leva pancada a sério, o inimigo seja Twister. O General Miura do primeiro filme é um adversário infinitamente mais digno que este boxer inglês. Desculpem lá quaquer coisinha mas, é mais interessante assistir a um confronto entre artes marciais chinesas e nipónicas ou ao kung fu contra o boxe? É que os estilos são tão diferentes que não existe nem a beleza visual nem a dificuldade que seria de esperar de um confronto épico. Mas no geral, as sequências de luta são visualmente estonteantes, nada da treta do digital que Hollywood enfia a martelo nos filmes. Contudo, a acção é menos sobre o estilo Wing Chun e mais sobre o confronto étnico. São os britânicos superiores aos chineses? Ip Man, coloca nos seus ombros a responsabilidade de responder pelo povo chinês com uma brutal sessão de pancada. Entretanto, também há desenvolvimentos na sua vida pessoal: a sua mulher Zhang Yong Cheng (Lynn Hung) está grávida e temos a oportunidade de conhecer Wong Lwung (Xiaoming Huang), que se tornaria um dos mais relevantes discíplos de Ip Man. No final, uma surpresa, Bruce Lee lá aparece para dar um ar da sua graça mas soa a um evento oco, sem qualquer significado especial. Foi apenas o primeiro encontro entre dois dos melhores praticantes de artes marciais de sempre, perdoem-me se estava à espera de uma cena com uma forte componente emocional. "Ip Man 2" é inferior ao primeiro filme. Ainda assim há grande valor de entretenimento, sobretudo se forem fãs de kung fu. Três estrelas.
Realização: Wilson Yip
Argumento: Edmond Wong
Donnie Yen como Ip Man
Lynn Hung como Zhang Yong Cheng
Simon Yam como Zhou Qing Quan
Sammo Hung como Mestre Hong Zhen Nan
Xiaoming Huang como Wong Shun Leung
Siu-Wong Fan como Jin Shan Zhao
Darren Shalavi como Twister
Kent Cheng como Fatso

Próximo Filme: "White: The Melody of the Curse" (Hwaiteu: Jeojooui Mellodi, 2011)

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