domingo, 25 de dezembro de 2011

"Who are you" (Krai... Nai Hong, 2010)

Quem és tu. Assim de repente não é muito fácil responder pois não? Para Nida (Sinjai Plengpanit) também não será fácil. É uma mulher madura, jovial, trabalhadora, espiritual, espirituosa, mãe. Nida esconde-se por detrás de um sorriso demasiado bem ensaiado, ou se calhar está mesmo, por via do culto em que está envolvida, convencida, de que é feliz. Tem o seu próprio negócio, uma banca de venda de DVDs, uns regulares e uns dos outros. Que mal faz um pouco de pecado? Quase consigo imaginar Nida a dizê-lo com um trejeito nos lábios enquanto pisca um olho, a marota. É esta alegria de viver que a faz revelar o seu segredo mais mal guardado. O filho Ton está fechado no quarto há cinco anos. O único modo de comunicar com ele é passando-lhe bilhetes por baixo da soleira da porta. Ele não sai porquê? Porque é viciado em jogos, porque é anti-social, porque ela é má mãe… Sabe lá ela, o motivo. O facto é que sente uma dor aguda, dor de mãe, que não vê o filho há vários anos.
Um produtor de TV (Pongpit Preechaborisutkhun), seu amigo/cliente ouve a história e considera Ton, o alvo perfeito para a sua próxima reportagem. Ele acredita que Ton sofre da síndrome Hikikomori, um termo japonês que designa um novo fenómeno de isolamento social da juventude. Perante uma sociedade repleta de agressão, seja pelo ruído, estímulos visuais ou a pressão social para sair de casa, trabalhar e enfim, ter filhos, muitos jovens desenvolvem uma fobia social que os leva a fechar-se dentro de casa a coberto de pais, muitas vezes, sobre protectores. O produtor convence Nida a deixá-lo entrar no seu mundo, que ele talvez possa ajudar Ton. Não é como se ela tivesse realmente obtido resultados quanto ao filho nos últimos anos. Ela deve ser afinal conivente e fraca e introduz o estranho na sua casa. O refúgio de Nida está recheado de animais empalhados, uma lembrança constante de um passado distante, a certeza de que a sua vida estagnou. Quem mal a conheça duvidará da existência de Ton. Cinco anos é tempo demais para ele não se dar a conhecer. A história dos bilhetes é demasiado rocambolesca. Será Nida uma mulher doente em busca de atenção? Será Ton, a corporização do seu pedido de ajuda? Afinal, ela anda metida com essas seitas esquisitas. Quem és tu. Alguém que não precisa da ajuda de um culto que provavelmente lhe leva todo o pouco dinheiro da venda de DVDs, a troco de um pouco de estabilidade emocional. No prédio em frente vive Pan (Kanya Rattapetch). Também ela não sai do quarto. E também ela tem uma mãe protectora. Mas ela não pode viver como gostaria por que ela sofre de alergias graves. Ela não chegou a completar a escola e não sai de casa, como o fazem outros, nem para dar um simples passeio. O único motivo de movimentação são as idas ao médico. Será que a sua condição se agravou?
Ao contrário de Ton, Pan vive atormentada pelo facto de não poder conhecer o mundo lá fora. Enquanto a mãe de Pan a vai protegendo no seu ninho, Nida deseja que o seu filho saia das amarras que ele próprio criou e viva a vida. Pan e Ton são dois seres indefesos por motivos distintos. Enquanto um se reclui voluntariamente, o outro anseia por extravasar. “Who are you” retrata com distinção dois dilemas terríveis do crescimento. Devemos ceder ao desejo de ficarmos para sempre numa Terra do Nunca e não crescermos ou efectuarmos o empurrão final para sairmos do ninho e tomarmos o destino pelas nossas próprias mãos? Crescer? Independência? Por outro lado, talvez seja altura de Nida se consciencializar que Ton cresceu e está na altura de o deixar partir. Nada dura para sempre. Podemos empalhar animais mas o que subsiste é o exterior. A essência, o que nos fez sentir afecto por eles, já se mudou para outro lugar. É a vida nunca em permanência, sempre em mutação que merece a nossa reflexão. Resulta pois que “Who are you” é uma peça original mas não totalmente inesperada de Eakasit Thairatana que escreveu a banda desenhada que seria a base de “13 Beloved” (2006), “Body #19” (2007) e o segmento “Tit for Tat” de “4bia” (2008). Tanto melhor, pois que “Who are you” transpira fulgor por todos os poros. Muito longe de ser o filme de terror sobrenatural sobre cabelo, “Who are you” parece mais centrado no desenvolvimento dos personagens, em particular, na actuação de Sinjai. “Who are you” teve uma participação discreta no MoteLx, em Setembro deste ano e como lamento não ter visionado esta pequena gema no grande ecrã. Este filme atesta o potencial que o cinema tailandês pode ter em diversas vertentes: argumento, direcção e representação. O único defeito é mesmo o final. Quando se aposta na reviravolta como um dado adquirido de todos os filmes de terror, o fôlego inicial perde-se. As expectativas que se criaram em torno das representações sólidas da dupla de actrizes e o argumento difícil mas, ainda assim credível, são destruídos quando se recorre ao choque com imagens geradas por computador. Como um lindo laço cujas pontas são mal atadas. Em todo o caso, “Who are you” é manifestamente superior ao cinema de terror tailandês típico. Se este é um pronuncio do cinema tailandês para a segunda década do século XXI, aguardam-nos uns próximos anos bastante excitantes. Três estrelas.

Realização: Pakphum Wonjinda
Argumento: Eakasit Thairatana
Sinjai Plengpanit como Nida
Pongpit Preechaborisutkhun como produtor de televisão
Kanya Rattapech como Pan

Próximo Filme: "13 Assassins" (Jûsan-nin no shikaku, 2010)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Battle Royale" (Batoru Rowaiaru, 2000)

"Battle Royale" é uma grande batalha pela sobrevivência onde ser o mais forte, não significa necessariamente, ter a maior força física mas a capacidade de se manter fiel aos seus princípios. Num novo milénio com uma velha sociedade quebrada, o Governo faz aprovar uma lei que castiga os mais novos e anima as massas. Assim, é criado o jogo perigoso "Battle Royale", no qual, todos os anos, é escolhida uma turma de alunos do 9º ano, para se matarem uns aos outros até restar apenas um! Este ano, é seleccionada a turma de Shuya (Tatsuya Fujiwara), um órfão que se vê confrontado com um dilema terrível: defrontar os seus amigos numa luta pela sobrevivência ou deixar-se morrer! Instruidos e acicatados pelo professor Kitano (Takeshi Kitano), os adolescentes têm as mais diversas reacções, desde a recusa em combater, a determinar a sua própria sentença, à resignação e outros há que revelam tendências psicóticas. As regras são muito claras: eles são abandonados numa ilha com diversas armas, desde metralhadoras a binócolos?! (querem melhor sentença de morte?), e umas coleiras ao pescoço. São obrigados a manterem-se em movimento senão as coleiras explodem, se as tentarem retirar terão igual sorte e se, no final do jogo, sobreviver mais do que um aluno, as coleiras explodem e morrem todos! Fixe não é?
As duras circunstâncias irão despertar sentimentos outrora ocultos, reforçar as inimizades e fortalecer laços para sempre. Não se deixem enganar pela premissa, apesar de tudo este é um bom filme com algumas jovens revelações no elenco. Surge aqui uma Chiaki Kuryama pré "Kill Bill" (2003), onde interpreta, curiosamente, uma assassina doida varrida. Temos também uma Kô Shibasaki antes de descobrir a maldição dos telemóveis em "One Missed Call" (2003), que interpreta a adolescente psicopata Mitsuko para quem a "Battle Royale" é mais depressa um modo de satisfazer os desejos sádicos do que um pesadelo. Quanto às mortes propriamente ditas, elas são bastantes e algumas muito originais, afinal é uma turma de 42 alunos. No entanto, não é nada como o banho de sangue que se poderia julgar. Há filmes bem piores a esse respeito, o que não lhe retira o mérito em algumas mortes como a de um jovem que é esfaqueado naquela zona tão sensível... Não que não seja merecido.
"Battle" apresenta alguns erros de continuidade. A deslocação de corpos e a troca de adereços de cena para cena sucede umas poucas vezes. Aquando da estreia o filme foi alvo de uma intensa polémica, o que me custa a compreender. Ok, são adolescentes assassinos mas, a sério, em que planeta é que vivem se acreditam que miúdos de 14 anos são inocentes? Se fosse um filme de pancada com um Steven Seagal ou um Chuck Norris, ninguém o levaria a sério. Por que hão-de fazê-lo com "Battle Royale"? É muito simples e directo ao assunto: apresenta as regras e a partir desse ponto a matança é sempre a abrir. Não ofende a matéria cinzenta já que a intenção também não é fazer pensar demasiado. Se nos faz reflectir, por breves instantes, sobre aquilo a que damos valor e sobre o comportamento das pessoas quando estas sabem que têm uma sentença de morte a pairar sobre si, ao fim e ao cabo é uma série de mortes mais ou menos horripilantes que dá para distrair durante um bocado. Como disse, inofensivo. Três estrelas e meia.
Realização: Kinji Fukasaku
Argumento: Koushun Takami e Kenta Fukasaku
Tatsuya Fujiwara como Shuya Nanahara
Aki Maeda como Noriko Nakagawa
Takeshi Kitano como Kitano Sensei
Taro Yamamoto como Shogo Kawada

Ah e já agora, Feliz Natal a todos / Feliz Navidad / Merry Christmas :)

Próximo Filme: "Who are you" (Krai... Nai Hong, 2010)

domingo, 18 de dezembro de 2011

"Cello" (Chello hongmijoo ilga salinsagan, 2005)

O violoncelo pode ser considerado um instrumento musical da alta cultura, no sentido mais elitista do tempo. Na verdade, a malta mais nova prefere ficar GaGa pelos beats da música pop do que passar pelo sacrífico de ouvir um pouco de Bach ou de Brahms. Isto, a malta quer é facilitismos, sons contagiantes, fáceis de compreender e de replicar. E assim, no Not a Film Critic passamos de um interlúdio musical no universo do K-pop com “White: The Melody of the Curse” (2010) para a música clássica. Esqueçamos a música reinante nos tops, produzida à velocidade da luz, mainstream, para peças longas, intrincadas, conhecidas somente por alguns iluminados. A simplicidade de “White” contrasta com o denso enredo de “Cello” (2006). Não obstante, ambos vivem de e para a música com a habitual alusão ao sobrenatural.
Mi-ju (Hyeon-a Seong) é uma antiga violoncelista que se dedica agora ao ensino na universidade onde se formou. Apesar dos incentivos para voltar a tocar, por colegas e pela própria família, Mi-ju recusa-se a tocar no instrumento e sente uma especial aversão por uma música em particular. A sua atitude fria face ao ensino e ao próprio instrumento granjeia-lhe o ódio de uma aluna que se sente injustiçada com as notas atribuídas por Mi-ju. Ela promete vingança e pergunta-lhe se “ela está feliz?”, como quem diz, que lhe vai tornar a vida um pesadelo. Entretanto, a luz dos olhos de Mi-ju, a sua filha Yoon-jin sofre de um tipo de autismo que condiciona de modo severo a interacção com os outros. Mi-ju sente um forte sentimento de culpa face à condição de Yoon-jin, apesar de não existirem provas de que o seu comportamento durante a gravidez tenha contribuído para a maleita da filha. Assim, a sua vida se divide entre a indiferença pela profissão e a cobrir de atenções Yoon-jin até que um dia esta demonstra interesse por um violoncelo. Mi-ju não hesita em comprar o instrumento. A partir do momento em que o adquire começam a acontecer uma série de acontecimentos estranhos no seu lar. Estes incluem uma obsessão pouco saudável de Yoon-jin pelo violoncelo e a sua insistência em tocar a música que Mi-ju não suporta ouvir.
À medida que cresce o perigo em redor da sua família, Mi-ju é obrigada a um reencontro com o passado, acabando por revelar o motivo da cisão com a carreira de violoncelista. É-nos revelado que Mi-ju esteve envolvida num acidente de carro que a deixou traumatizada e provocou a morte da sua grande amiga e colega Tae-yeon (Da-na Park). Mas ela esconde um segredo terrível e será preciso aguentar pelo menos 40 minutos de filme até se fazer luz sobre os acontecimentos. Que ninguém se queixe que o cinema coreano não gosta de contar muito bem contadas as suas histórias. O cinema coreano é tipo sexo tântrico, são mais importantes os preliminares do que a penetração, vulgo, clímax. “Cello” reflecte de modo perfeito a obsessão do cinema sul-coreano com o karma. Não interessa quanto tempo passa, o passado volta sempre para nos assombrar, trazendo consequências devastadoras. “Cello” peca pela falta de originalidade: existe uma presença sobrenatural do sexo feminino apostada em fazer das suas, uma mensagem de texto que anuncia intenções perigosas, um instrumento musical amaldiçoado… O motivo por que o violoncelo carrega uma maldição nunca é corporizado. Faz-se um filme sobre um violoncelo que transpira morte e desespero mas nunca se explica porquê?
Mi-ju é a protagonista dislikeable quanto baste. Ela tem uma relação fria com todos os que a rodeiam excepto a filha mais velha. Talvez ela sinta que ter uma filha autista seja o preço a pagar pelos actos do passado. Para quem tanto amava tocar violoncelo, a sua indiferença é surpreendente. Se por outro lado, o instrumento é causa de sofrimento, um lembrete constante dos erros cometidos, seria de pensar que ela preferisse o afastamento total da música. Parece que Mi-ju vive num mundo muito próprio, estéril quase, de aparências, guardando no subconsciente uma informação perigosa, à espera do momento certo para sair e destruir a vida que ela construiu com os cacos do passado.
“Cello” peca por ser qualquer coisa fora do extraordinário: o guião é vulgar, a cinematografia é vulgar, as actuações são regulares. Tirando a composição musical, inexoravelmente ligada ao violoncelo, a actriz principal e a pequena Jin Ji Hye como a filha mais nova de Mi-ju existe pouca ou nenhuma frescura na narrativa. “Cello” funciona num registo muito mediano. Até a reviravolta final é um lugar-comum. A moral da história, entrelaçada com o conceito milenar do karma revolve sobre a punição dos maus actos, mesmo que para tal, o universo tenha de pregar uma grande partida aos prevaricadores e os enleve num ciclo contínuo de dor. Não tenho sentimentos pessoais contra uma história sem fim, excepto quando é tão pouco arrebatadora quanto esta. Duas estrelas.

Realização: Woo-cheol Lee
Argumento: Woo-cheol Lee
Hyeon-a Seong como Mi-ju Hong
Da-an Park como Tae-yeon Kim
Ho-bin Jeong como Jun-ki
Jin Woo como Kyung-ran
Na-woon Kim como Sun-ae
Jin Ji Hye como Yoon-hye


Próximo Filme: "Battle Royale" (Batoru Rowaiaru, 2000)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Sector 7" (7 Gwanggu, 2011)

Às vezes estou naqueles dias. Não, não é um DESSES dias. Não sejam nojentos. Mas às vezes, sentamo-nos (sim, por que eu costumo ver filmes sentada, em pé não me parece tão fofinho) com a impressão de que o visionamento não vai correr muito bem. A sinopse parecia boa e o trailer prometia. O marketing da película anunciava o primeiro grande filme de monstros desde “The Host” (2005) e o formato IMAX 3D. “Eh lá, deve ser qualquer coisa de interessante”. Então, porquê esta urticária da mente? À partida, tinha uma leve ideia que “Sector 7”, não seria tão bom como as minhas expectativas se tinham deixado elevar, desde que lera aquela notícia em Agosto. Mesmo assim, não estava à espera do modo como as coisas se desenrolaram. Ignorei as críticas do “Sector 7”, sabendo que as primeiras reacções não auguravam nada de bom. Afinal, “não podia ser assim tão mau”.
Uma das observações que se podem fazer deste “Sector 7” é que se assemelha a um filme de série B. Aviso já que não é esse tipo de filme. Antes fosse, que assim ainda seria capaz de nutrir simpatia pelo realizador, actores, efeitos especiais e tantos outros problemas que a película demonstra. Mais vale ser cruel e expor logo o filme como a grande fraude que é. Tough love! A acção de “Sector 7” é situada numa plataforma petrolífera ao largo da ilha Jeju, onde a equipa de extracção luta para encontrar petróleo. A escassos dias de abandonar a busca infrutífera descobrem que aquele lugar alberga um monstro perigoso. Segue-se a fuga do monstro, a luta pela vida, ah e tal que afinal alguns dos membros da plataforma sabiam o que se estava passar, o típico herói durão… Já se viu tudo isto antes e melhor. Que dizer da heroína? É uma cabra que maltrata todos à sua volta por motivo nenhum. Por algum motivo acharam piada fazer do papel principal uma tipa que ninguém grama. Ela é combativa, malcriada, rebelde, desobedece a ordens, enfim, uma maravilha de pessoa para se conviver durante meses a fio. E nunca é explicado o motivo para o seu comportamento anti-social. Está num mundo de homens e quer provar o seu valor? Daddy issues? Pior é tentarem convencer-me que uma escanzelada como aquela tem estaleca para trabalhar numa plataforma petrolífera. Como atleta, modelo ou estrela de cinema muito bem mas para operária? Ji-won Ha foi um erro de casting. Para o meio ainda atiram uma relação mal cozinhada com o mais jeitoso dos operários. Obviamente. Ele, pobre coitado, está embeiçado e é um brinquedo nas mãos dela. É constantemente humilhado e rebaixado pelo objecto da sua afeição. Como é que ela, com aquele muro à sua volta, maior que a muralha da China, deixou alguém entrar é algo que me escapa. Como ele se deixa maltratar é outro mistério. Ah, já percebi, é o sexo. Ela é o homem da relação e só pretende levá-lo para a cama. Ok. E ela também leva algo muito especial para a plataforma: uma mota. Até parece que estou a imaginar a equipa a surgir com a respectiva bagagem e as escovas de dentes e Hae-jun, com aquele ar de desafio aparecer com a mota. “Sim, vou levar a minha mota. O que é que vais fazer quanto a isso?”
Os restantes trabalhadores são estereótipos irritantes. Não é como se vê-los morrer afectasse alguém. Adeusinho. Quanto aos diálogos, consistem em tentativas de comédia falhadas e nos conflitos provocados por Hae-jun. Notem, que com isto tudo, o monstro ainda nem apareceu.  É aquela cena do contexto, de ficarmos a conhecer os personagens e percebermos as suas motivações. Bem, tirando, o facto de ficarmos a saber que os trabalhadores de petrolíferas são todos uns asnos, não posso dizer que tenha compreendido as suas motivações. Népia, nada. Numa das cenas finais, quando se espera que a Hae-jun dê uma de Ripley ela fica especada a ver o monstro trucidar um dos colegas. Então não era ela a durona sem medo de nada? Passemos àquilo que estão mortinhos por saber... O monstro não é nenhum "Host" (2005). É feio, repugnante, mal desenhado e vagamente parecido com uma lesma do mar. Retrata o lado bom e o lado negativo das novas tecnologias em simultâneo. Se por um lado atesta que as possibilidades de criação são infinitas, por outro, nunca um monstro pareceu tão falso. Como pode uma pessoa estremecer de medo perante uma coisa tão… artificial? Se nos estão a vender um produto como terror, esperamos que esteja à altura do título não é? “Sector 7” tem uma premissa interessante mas os cineastas foram incapazes de capitalizar sobre a ideia inicial. A película podia ter por cenário qualquer espaço no planeta. A plataforma petrolífera está ali porque sim. Não existe um motivo especial para a origem do monstro nem para este começar a atacar os trabalhadores. Também não se entende por que estes tomaram a decisão de ir viver durantes largos meses para aquele que é dos locais mais isolados e perigosos do mundo. Escapar do passado? Não têm entes-queridos? Solver as dívidas? É impressionante como um filme com ambições de seriedade é tão básico. Depois de tudo dito e feito, o “melhor” que se pode dizer de “Sector 7” é que podia ter sido realizado pelo Michael Bay. Uma estrela.
Realização: Ji-hun Kim
Argumento: Je-gyun Yun
Ji-won Ha como Hae-jun Cha
Sung-kee Ahn como Jeong Man
Ji-ho Oh como Dong-soo Kim
Ae-ryeon Cha Park como Cientista Kim
Próximo Filme: "Cello" (Chello hongmijoo ilga salinsagan, 2005)

domingo, 11 de dezembro de 2011

"Ouija Board" (Bunshinsaba, 2004)


Se não fosse um horror seria uma tragédia. Na Coreia do Sul é comum os actores fazerem carreira em séries de televisão. Alguns nunca chegam a entrar na grande tela. Nem é preciso, a não ser que queiram chegar a uma audiência ainda maior. Lá, as séries merecem um respeito que noutros sítios não se lhes reconhece. Têm qualidade, não constituem um mero veículo para se conseguir uma carreira no grande ecrã. Conduzir uma série em televisão é fazer carreira. Como tal, compreende-se que os filmes coreanos comportem uma componente dramática muito forte. É-lhes inato. Não é pois de espantar que que vários actores de “Ouija Board” tenham experiência televisiva em séries dramáticas prévias ao filme. Se querem saber um pouco mais sobre o universo televisivo sul-coreano, perguntem-lhe a ela. Poucos sabem tanto sobre a televisão asiática nomeadamente, Coreia do Sul, Japão e China e, ainda por cima, em língua portuguesa. No que me diz respeito, creio que participar no filme “Ouija Board”é um downgrade na carreira de um actor. Ninguém precisa de mais um filme sobre mortas despenteadas no currículo. O realizador e argumentista Byeong-ki Ahn tem no seu percurso vários filmes, adivinhe-se lá, sobre moças mortas de cabelo desalinhado. O seu melhor esforço foi “Phone” (2002), que até vai ser alvo de (mais) um remake em Hollywood. Ele descobriu a fórmula do sucesso e limita-se a replicá-la a cada novo projecto. O resultado é um filme tão pouco original que tive de parar o visionamento três vezes, tal o efeito de sedativo. Tenho uma teoria, rebuscada talvez, que o objectivo dos filmes de terror é provocar insónias e não curá-las, mas é apenas a minha opinião.
“Ouija Board” situa-se na província, para onde uma mãe e a filha Yu-jin (Se-eun Lee) oriundas de Seul se mudam. Ali, a jovem citadina torna-se rapidamente o alvo preferido das rufias de serviço. Deve ser por ela ter vindo da grande cidade, estão a ver? Ou se calhar são os grandes, expressivos olhos de Yu-jin a causa de tanta inveja. Enfim, é aquele grupinho muito popular mas que, por algum motivo, ninguém grama. Algures, a lógica de Yun-jin lhe diz que a melhor forma de se livrar dos maus-tratos é lançar uma maldição sobre as vilãs. Reportar aos pais ou aos professores o comportamento vil das meninas? Alguma vez? Não. O mais racional é invocar um espírito maldito para fazer o trabalhinho sujo. Yun-jin reúne-se com outras colegas vítimas de bullying e improvisam uma espécie de jogo do copo (a tal Ouija Board). Yun-jin, qual médium experiente, avisa-as para não abrirem os olhos pois algo de mau pode suceder só que ela própria acusa a pressão do momento e comete esse erro. Elas conseguem invocar com sucesso um espírito e que resultados obtêm! Soubera eu uns anos mais cedo… Infelizmente, o espírito é assim a meios que excessivo, já que as rufias começam a surgir mortas com sacos na cabeça, queimadas até ao irreconhecimento. Digo eu, que não era caso para tanto mas se calhar o que está a suceder às meninas más, não tem nada que ver com o bullying que Yun-jin e as colegas sofrem nos dias de hoje. Entretanto, existe um par de professores simpáticos que querem fazer algo para ajudar as alunas. No entanto, estão de mãos atadas face a um conselho directivo irredutível. Também não ajuda muito o facto da professora nova Eun-ju Lee (Gyu-ri Kim), se enganar em plena aula e chamar In-suk Kim (Yu-ri Kim), uma aluna que já não é vista há 30 anos. Junte-se um segredo terrível e temos o típico filme sobre um espírito vingativo.
A história está pejada de influências anteriores: invejas, abuso, preconceito, sexo… Os personagens dividem-se entre os estereótipos habituais: a rapariga inocente, o professor compreensivo, rufias e os personagens com um passado misterioso. Está lá enfiada toda a última década do cinema. Quando isso sucede o factor medo evapora-se. Mas o grande problema da película nem é Byeong-ki Ahn. Ele repete a fórmula mágica por que o público-alvo ainda não se cansou do género: leiam-se adolescentes em idade escolar. A audiência identifica-se com as personagens de uniforme que tropeçam na magia negra. Muito me admiro se depois da sessão de cinema muitos jovens não tiverem ido experimentar o jogo do copo. E não se pode censurar Byeong-ki Ahn por dar à sua audiência o que ela quer. O género carece urgentemente de ser revitalizado. Infelizmente, isso não acontecerá à custa dos repetidos apelos de cinéfilos. Os “Ouija Board” por esse mundo fora, só irão desaparecer quando a população virar as costas ao género e preferir sucedâneos mais bem cozinhados. Até lá, perseguirei estóica (cof cof) por entre os inúmeros fantasmas vingativos para vos dar a conhecer os melhores filmes de terror coreanos. Duas estrelas.

Realização: Byeong-ki Ahn
Argumento: Byeong-ki Ahn
Se-eun Lee como Yu-jin Lee
Gyu-ri Kim como Eun-ju Lee
Yu-ri Lee como In-suk Kim
Seong-min Choi como Jae-hun Han
Próximo Filme: "Sector 7" (7 Gwanggu, 2011)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Bloody Reunion" aka "To Sir with Love" (Seuseung-ui eunhye, 2006)

Mas alguém gosta realmente de ir às reuniões de antigos alunos? É ver que os alunos populares continuam bonitos, ricos e bem-sucedidos e os impopulares continuam a ser os mesmos falhados. Esta é a premissa de “Bloody Reunion”, onde uma antiga professora de primária que padece de uma doença terminal se reúne pela primeira vez em muitos anos, com uma turma de ex-alunos. É-nos mostrado que ela sofreu uma gravidez complicada que a fez dar à luz uma criança deformada e lhe custou o casamento. A reunião deverá resultar num último encontro que lhe traga paz de espírito antes de deixar este mundo. Os percursos dos alunos, agora nos seus vinte e poucos anos foram profundamente influenciados pela professora Park (Mi-hee Oh). Uma recepção calorosa inicial dá lugar è frieza e à recriminação è medida que o álcool é vertido e as memórias abafadas começam a surgir… Podíamos ter aqui um drama perfeito, não fosse “Bloody Reunion”, um slasher movie, digno de um “Friday the 13th” (1980).
A primeira parte do filme é passada a dar a conhecer as personagens, as suas motivações e agendas. Ficamos a perceber que abaixo da superfície os ex-alunos são adultos com extremas disfunções. Se-yeol Park aproveita para inserir no argumento laivos de crítica social e incide com a perícia de um cirurgião sobre o sistema educativo coreano. Pak desafia-nos a reflectir sobre aqueles breves momentos da juventude que nos marcaram para sempre ou, de como as mais pequenas frases podem impactar uma jovem mente e formatá-la para o sucesso ou fracasso. Na segunda metade, a tensão acumulada dá lugar a uma sucessão de mortes brutais provocadas por um indivíduo com uma máscara de coelho. “Bloody Reunion” ganha pontos face ao típico slasher pelo facto de ter algumas mortes genuinamente criativas e perturbadoras e por “despachar” personagens que à partida apostaríamos em como seriam as últimas vítimas. O cenário não é meramente decorativo mas serve como uma personagem extra. Nota-se que foi pensado e que não serve apenas um propósito de logística. A praia e o sol intenso contrastam com o ambiente obscuro nos filmes do género e demonstram que um espaço paradisíaco pode servir perfeitamente para criar uma sensação de temor nas entrelinhas de palavras inocentes. À medida que vai escurecendo a atmosfera vai caminhando para o insuportável até desembocar em morte.
A grande pergunta que se impõe é: Quem é o assassino? Terá sido um dos alunos que enlouqueceu de vez? É alguém que ignorámos na equação e que esconde uma agenda mais misteriosa do que podemos imaginar? A resposta não é assim tão difícil de encontrar se houver uma grande atenção aos pormenores. Como tão habitualmente os cineastas gostam de fazer em cinema, mais até no cinema americano que no asiático, onde parece existir uma aversão a deixar perguntas por responder e imagine-se só, fazer a audiência pensar, no final temos direito a uma série de flashbacks que explicam o como e o porquê dos assassinatos. Não sou grande fã desse tratamento que mina o que foi construído até ali. A narrativa deve ser suficientemente forte para se suster a si própria sem o recurso a flashbacks. Se é necessário utilizar este recurso para explicar algo que terá ficado por compreender é porque, muito provavelmente, algo correu mal durante o percurso. O que me leva ao final. É confuso. Os últimos 15 minutos são um conjunto de reviravoltas que não faziam grande falta ao enredo. Talvez a opção tenha sido tomada no sentido de americanizar ainda mais “Bloody Reunion”. Num bom slasher a gratificação não advém necessariamente de sabermos quem é o assassino mas, de existir um good guy ou uma good girl, com o qual nos identificamos e por quem torcemos que escape às garras do matador.
Outra das forças desta película está no elenco sólido do qual destaco Yeong-hye Seo (Mi-ja) com uma grande capacidade dramática, que demonstrou em todo o seu esplendor no drama Bedevilled (2010) e Mi-hee Oh a professora Park que por detrás de uma aparência amável esconde uma insensibilidade e preconceito que professor algum devia ter. “Bloody Reunion” é um bom slasher se tiverem paciência para a construção das personagens e uma primeira metade de filme sem grandes sobressaltos. No entanto, quando tenta deixar de ser igual a si próprio, com as implicações culturais que ser um filme made in Korea tem, para se aproximar dos filmes americanos, “Bloody Reunion” perde a aura de desafio e até a criatividade que até ali tinha demonstrado. Não deixa de ser curioso que um filme de crítica social seja incapaz de fazer uma auto-introspecção. Duas estrelas e meia.
Realização: Dae-wung Lim
Argumento: Se-yeol Park
Yeong-hye Seo como Mi-ja Nam
Mi-hee Oh como professora Park
Ji-yeon Lee como Sun-hee
Hyo-jun Park como Dal-bong
Hyeon-soo Yeo como Se-ho
Seol-as Yu como Eun-young
Dong-kyu Lee como Myung-ho

Próximo Filme: "Ouija Board" (Bunshinsaba, 2004)

domingo, 4 de dezembro de 2011

"R-point: Ghost Squad" (Airpointeu, 2004)

Vietname, 1972. Inferno na terra. Gerida e mantida por razões políticas, como sempre são as grandes guerras, encontra-se num impasse. O tenente Tae-in Choi e o soldado Kim aproveitam um momento de pausa nas hostilidades para irem às prostitutas em Nha Trang. Num momento de distracção o inimigo ataca e Kim acaba por ser morto. Entretanto, é recolhido um soldado ferido gravemente em R-point, cujo pelotão estará todo morto. Ele encontra-se num estado de delírio e os seus superiores não conseguem retirar um sentido das palavras desconexas. O quartel-general recebe uma transmissão que indica que os soldados podem ainda estar vivos e decide enviar um grupo de homens para desvendar o seu destino.
O superior de Choi dá-lhe a oportunidade de se redimir se cumprir esta última missão depois do descuido em Nha Trang. Ele e outros 8 soldados são enviados para R-point, uma zona rural inóspita onde têm desde logo uma recepção “calorosa” por parte do inimigo. Eles atingem uma rapariga vietnamita e abandonam-na para morrer dos ferimentos. Mais tarde, encontram uma gravação antiga que fala de um massacre de vietnamitas por chineses, que os largaram num lago e construíram um templo sobre o local para trazer harmonia ao local. Cedo voltam a encontrar um novo aviso: “Quem tem sangue nas mãos, não regressará vivo”. Um a um, os soldados começam a experienciar fenómenos pouco naturais. Os avisos antigos e a súbita realização de que poderão não estar sozinhos começa a ter efeitos perversos na moral dos soldados. É curioso, por que, ali estão eles, no meio de uma guerra. Muitos já terão tido a sua experiência de combate, terão visto cenas que o ser humano comum não consegue sequer imaginar e, no entanto, encontram um novo medo no desconhecido. O terror advém do inesperado e não num qualquer batalhão inimigo que se esconda na selva.
Os soldados são estereótipos que já vimos noutros filmes: o novato, o homem de família, o que tem extensa experiência de batalha… Contudo, as personagens-tipo não afectam o desenrolar da trama, pelo contrário, facilita a distinção entre os soldados do pelotão e a escolha dos nossos favoritos. “R-point” empresta alguns dos seus elementos a belos filmes de guerra como “Platoon” (1986) e “Saving Private Ryan” (1998). Oferece uma perspectiva humanista dos soldados e não como meras máquinas de morte. É também um exercício de reflexão sobre a guerra e o valor da vida humana. Justifica-se enviar para a morte um conjunto de soldados para salvar outros que provavelmente já não estarão vivos? “R-point” evita colocar-se de um dos lados da guerra. Existem apenas soldados no meio de uma guerra e que lutam pela sobrevivência. Alguns ainda têm a vida toda pela frente, outros têm família para a qual querem voltar. O que o argumentista e realizador Su-chang Kong não nos deixa esquecer é que estes homens não são peões inocentes. A situação desesperada em que se encontram vai testar a confiança que colocam na unidade e a disciplina. Todos eles pecaram de algum modo e o temor que os atinge traz a descoberto as suas falhas. À medida que os acontecimentos espiralam fora de controlo, os soldados vão-se tornar mais desconfiados e paranóicos, trazendo a lume o que de melhor e pior guardam dentro de si e, por fim, ditar os seus destinos. Su-chang Kong aproveitou ainda para lançar achas para a fogueira, ao não deixar de fora apontamentos como as intenções colonialistas, imperialistas, de controlo político e económico dos povos chineses, franceses e americanos sobre o território vietnamita. É como se o Vietname fosse uma terra de todos e de ninguém, em que cada povo vai surgindo à vez para reclamar a sua parte. Não considero justo incluir “R-point” no género do K-horror visto que é primeiramente, um filme de guerra. Também não esperem muito gore e os poucos momentos que impressionam pessoas mais sensíveis não estão muito realistas. Sangue de groselha? Valha-nos o argumento, as personagens distintas e o cenário da selva cambojana onde foi rodado. Com todos esses pontos fortes, no final fica uma sensação de vazio, de que faltou algo. A trama não é concluída de modo satisfatório. Os filmes asiáticos são conhecidos por deixarem perguntas por responder mas “R-point” merecia um desenlace mais forte. O motivo da assombração não é clarificado. Se no final alguém vos perguntar porque sucederam acontecimentos terríveis em R-point respondam com um simples “Porque foram para a guerra”. Três estrelas.

Realização: Su-chang Kong
Argumento: Su-chang Kong
Woo-seong Kam como Tenente Tae-in Choi
Byung-ho Son como Sargento Chang-rok Jin
Tae-kyung Oh como Sargento Young-soo Jang
Wong-sang Park como Sargento Cook
Seon-gyun Lee como Sargento Park
Jin-ho Song como Sargento Oh
Byeong-cheol Kim como Cabo Byung-hoon Joh
Kyeong-ho Jeong como Cabo Jae-pil Lee
Yeong-dong Mun como Cabo Byun
Ju-bong Ji como Capitão Park

PS: Há alguns anos que persiste o rumor de que Zhang Yimou pretende realizar o remake de R-Point, em terras americanas. Mas por esta altura não se sabe se o projecto continua na mesa.


Próximo Filme: "Bloody Reunion" aka "To Sir with Love" (Seuseung-ui eunhye, 2006)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

3ª Mostra de Cinema de Hong Kong em Lisboa!

Em Janeiro de 2012, Lisboa recebe a terceira edição da mostra dedicada ao cinema de Hong Kong. De 11 a 15 de Janeiro o Cinema City Classic Alvalade será agraciado com filmes de comédia e romance produzidos em Hong Kong.

Programa
11 de Janeiro, quarta-feira - "All About Love"
12 de Janeiro, quinta-feira - "Break Up Club"
13 de Janeiro, sexta-feira - "Crossing Hennessy e "The Drunkard"
14 de Janeiro, sábado - "La Comédie Humaine" e "Echoes of The Rainbow"
15 de Janeiro, domingo - "Gallants"

A Mostra de Cinema de Hong Kong é um projecto desenvolvido pela Zero em Comportamento em parceria com o Hong Kong Economic and Trade Office de Bruxelas e pretende dar a conhecer a vitalidade e diversidade da produção cinematográfica de Hong Kong. Esta iniciativa constitui uma rara oportunidade de conhecer o cinema de romance e comédia do extrema oriente. Eu vou lá estar. E vocês?

Mais informação e o programa completo no website oficial do evento.
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