quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Hunger Games" (2012)


Diz que depois do fim há sempre alguma coisa. No caso, serão uns jogos da fome. Enquadrado num cenário pós-apocalíptico, 24 participantes de doze distritos competem entre si, num jogo mortal televisionado para gáudio da população do Capitólio. A expressão “pós-apocalíptico” sempre foi, para mim, um mistério dado que apocalipse significa o fim dos tempos. Visto que a maioria do pessoal não recebeu o comunicado com essa informação, bota apocalipse para frente tipo: em tudo o que são filmes do género de ficção científica. Assumindo, a correcção da palavra apocalipse ao tema em causa fica pois, definitivamente comprovado que os humanos são piores que as baratas. Não há modo de as erradicar. E se lhes arrancarmos a cabeça, ainda sobrevivem durante nove dias.
Ora então nesse tal futuro não tão utópico como querem fazer crer os simbolismos mal dissimulados de “The Hunger Games”, treze distritos revoltaram-se contra o Capitólio. A revolta foi esmagada e só restaram doze distritos, condenados até ao fim dos tempos, passe a expressão, a entregar dois “tributos” cada ao Capitólio, para um programa de televisão onde jovens entre os 12 e os 18 anos combatem até à morte até restar um único sobrevivente. Num ritual anual chamado a ceifa, são escolhidos um homem e uma mulher que serão os representantes do seu distrito nos jogos da fome. A pergunta que vos tem assolado até aqui: porquê jogos da fome? Porque os distritos são pobres. Há pessoas a morrer de fome fora da capital. Cada distrito subjugado ao poder do vencedor da guerra ocorrida 75 anos antes constitui a sua fonte de riqueza. Por exemplo, do distrito 12, onde reside uma certa Katniss (Jennifer Lawrence), o Capitólio retira minérios. Assim se vê, um retrato do mundo evoluído versus o subdesenvolvido, no qual os ricos extraem com todo o direito ou, como tal pensam, a matéria-prima dos pobres. Enquanto a memória de uma revolta estiver suficientemente presente na memória de um Capitólio, este usá-la-á para entreter as massas. Enquanto os pobres se sentirem fracos, com fome e demasiado trabalho nos corpos esquelécticos, eles serão “justamente” punidos pela sua ofensa anterior. É neste contexto que a jovem Katniss se voluntaria para os jogos da fome após o sorteio ter calhado em sorte à sua irmã de apenas 12 anos, Primrose (Willow Shields). Desde logo vemos uma rapariga vencedora. Ela não se resigna perante as adversidades. Ela é uma lutadora. E sabemos isso, desde o primeiro momento em que a vimos no ecrã. Acompanhamos a sua ida para a capital, onde é coberta de luxos que nunca mais voltará a usufruir e treinada para sobreviver e matar. Por fim, assistimos à sua ida com Peeta (Josh Hutcherson), o rapaz selecionado com ela, para o terreno dos jogos.
Até aqui refreei uma vontade louca de falar de “Battle Royale” (2001), filme do qual “The Hunger Games” foi mais do que levemente inspirado. Isso constitui um problema? Não. “The Hunger Games” é menos polémico e o seu público-alvo diferente. Ambos sobrevivem por si próprios. Considerando os defeitos de “The Hunger Games”, nem por isso deixa de ser um filme acima da média. Mas falava-se em defeitos. Jennifer Lawrence é uma das mais recentes estrelinhas destinadas a brilhar com luz intensa. Ela é um talento, no entanto, a sua presença em “The Hunger Games” ainda carece de alguns apontamentos. Jennifer, cara redondinha como é, não se adequa à imagem de uma rapariga atacada pela fome. Não advogo as imensas flutuações de peso dos actores. Contudo, menos uns dois quilos já tornariam Jennifer mais imersa na personagem. Depois, Jennifer é muito forte sendo que passa por arrogante no ecrã. Embora se compreenda a revolta de Katniss com todo o espectáculo que envolve a morte de crianças e adolescentes e pessoal de roupas e penteados estranhos que aplaudem a selvajaria, a sua aura é de pouca vulnerabilidade, qual animal encadeado pelos faróis de um carro. Afinal de contas, só pode sobreviver um entre 24 escolhidos. Quais são as probabilidades de ser ela a regressar para casa? Quais, quando até há distritos que treinam os seus jovens desde pequenos para sobreviver aos jogos? Mais, sobreviver para quê? Para regressar ao mundo da fome, depois de ter conhecido os luxos do Capitólio. Para uma família que simultaneamente a aguarda e a inveja por tudo quanto conheceu, num sítio que nunca irão visitar? A parte dos jogos é infelizmente demasiado breve. Mal se chegam a conhecer os oponentes. E a simpatizar com eles. A estória de Rue, uma rapariguinha pequena que combate nos jogos ao lado de Katniss é por demais breve. Queria tê-la conhecido como fora apresentada no livro. E os vilões? Por piores que sejam, têm no máximo 18 anos e sofreram lavagem cerebral. São estes apontamentos que sabem a pouco. A transposição para a tela foi óptima dadas as circunstâncias mas uma pessoa não pode deixar de se perguntar, dado exemplos como o de Harry Potter, se não valeria a pena partir o livro em dois e espremer tudo para uma maior satisfação. Três estrelas.

Realização: Gary Ross
Argumento: Gary Ross, Suzanne Collins e Billy Ray
Jennifer Lawrence como Katniss Everdeen
Willow Shields como Primrose Everdeen
Josh Hutcherson como Peeta Mellarke
Wes Bentley como Seneca
Stanley Tucci como Caeser Flickerman
Donald Sutherland como Presidente Snow
Woody Harrelson como Haymitch
Liam Hemsworth como Gale Hawthorne
Elisabeth Banks como Effie Trinkett

Próximo Filme: "Death Note” (Desu Nôto 2006)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...