quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"City Horror - The Evil Spirit" (2002)


Sabem aqueles acontecimentos que são tão traumáticos, tão dolorosos que só queremos fugir e nunca mais olhar para trás? Mas, qual pesadelo, regressa para nos assombrar? Cha é uma rapariga do campo que fugiu para a grande cidade, onde consegue vingar na sétima arte. A pretexto de mais um trabalho Cha é reconduzida para a terra natal. Muitos dos que conheceu já faleceram, outros tantos parecem levar vidas estagnadas. Um pé à frente do outro para sobreviver, que a vida ali não tem grandes alegrias. As perspectivas são nulas e nem todos podem ir para a cidade como a pequena misse citadina…
E enquanto ela e a sua equipa vai perturbando as aparentes águas calmas do local, ela recorda uma menina que teve uma morte prematura. Onde as outras crianças da aldeia viam uma garota estranha ela via uma potencial amiga, de quem tinha pena por ter perdido a mãe. Até que um dia tudo se desmoronou, um erro desfez sonhos e eles afastaram-se, perderam-se numa vida que podia ter sido de sucessos. Agora que Cha regressou, Yah desperta de um sono atormentado. Finalmente, todos pagarão pelo mal que lhe fizeram.
Espirito maléfico? É curioso como tudo o que não é “natural”, é logo automaticamente rotulado de maléfico. É quase facto universal que raparigas com cabelo negro e descabeladas não são sintoma de boas coisas por vir. Mas vamos lá analisar por um momento as meninas. Quase todas tiveram mortas horríveis e a grande maioria nem sequer foi especialmente bem tratada em vida. Por que não haveriam de retornar para se vingar dos vivos? É suposto que vão para o céu e perdoem os que as magoaram e até lhes causaram, por vezes, a morte? A piedade é para os vivos. E não conhecendo fronteiras na morte, tenham medo. Tenham muito, muito medo. O resto é a estória habitual com um final igualmente previsível. Se bem que, terei ali visto laivos de “Shutter” (2004)? Juro que se mais algum episódio da série tiver “inspirado” outras obras, ganharei um novo respeito sobre a série.
“The Evil Spirit” não se afasta um milímetro dos temas recorrentes do cinema sul-coreano. O cenário é o  microcosmos habitual, aldeia/vila/localidade mais ou menos isolada, na qual a população local vive embrenhada na sua própria realidade e não possui capacidade psicológica acolher outras realidades, chegando até a repudiar qualquer tipo de influência exterior. Possuem pois, regras implícitas auto-impostas que às vezes se substituem à própria lei, deixando margem para que cometam os actos mais obscenos sem medo de punição. Subjacente, está ainda o binómio homem/mulher que só parece funcionar quando o género masculino tem o ascendente sobre o feminino. Se ela não for subjugada pelo homem é considerada louca. Se ela for independente e liberal, parece sempre existir algum tipo de crítica ao seu estilo de vida. E claro, numa micro-sociedade tão opressora como pode a mulher não se rebelar, mesmo que só além do corpo, no meio metafisico, o único local onde parece ser consensual que ela é mais forte? Do género: “vêm como nós até consideramos o sexo feminino poderoso?” Sim, mas tiveram de o transformar num ser maléfico. Ao menos os que forçam a mulher a fazer coisas que não quer, assumem aquilo que são. Hipócritas!
Para mal da audiência “The Evil Spirit” nunca é mais do que os temas que lhe estão subjacentes, nunca é mais do que a historieta de terror que não funciona assim tão bem por que, pronto, a pequena vilã é adorável e, não estão mesmo á espera que tenhamos medo quando se vê uma actriz obviamente pendurada por cabos? Duas estrelas.

Actores: Kei Yung Lee e Kai Wing Cho

Próximo Filme: "A Designar (Porque a sério, isto está mesmo difícil de adquirir filmes"

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