domingo, 21 de abril de 2013

"Secret Sunday" (9 Wat, 2010)


Há qualquer coisa de mágico na câmara de Saranyoo Jiralak que se encontra algures entre o naturalismo digno de um National Geographic e o programa de viagens dedicado ao turismo religioso. A sensação permanente de voyeurismo intruso é o que distingue “Secret Sunday” de um documentário. As cenas de jovens citadinos cheios de estilo a irromper por entre os raios de sol que acariciam as paredes de templos milenares trazem a certeza de arte. Estátuas, fotografias, animais, as árvores de uma floresta, até o pneu de um automóvel… Ajudam a contar a viagem de uma vida para um casal e o monge a quem deram relutantemente boleia.

“Secret Sunday” (não me perguntem a razão de ser do nome porque até ao momento ainda não percebi), cujo título na Tailândia é 9 wat, literalmente, nove templos, narra a estória de Nat (James Alexander Mackie) e a sua namorada Phoon (Siraphan Wattanajinda) que se propõem a a percorrer nove templos em sete dias para expurgar o mau karma de Nat a conselho da mãe deste. A senhora, uma budista devota, acredita que o filho está rodeado de energias negativas e que ele deve procurar o caminho da religião para alcançar a salvação. Nat acede a fazer a viagem mais pelo desejo de férias do que por uma crença profunda nas convicções da mãe. Já Phoon questiona mas não recusa a sugestão pois não é ateísta além de que tem as suas próprias preocupações egoístas. O seu caminho cruza-se com o de Sujitto (Pradon Sirakovit) um monge budista que parece saber algo mais sobre o que está a afligir o casal do que eles próprios e que também está ligado ao passado de Nat... Este podia ser o início perfeito de uma viagem de descoberta para um ateu, uma agnóstica e um crente mas 9 wat, a despeito da óbvia ligação religiosa trilha outros trajectos. “Secret Sunday” é um road-movie com um mix de thriller sobrenatural. Phoon é a protagonista e com razão já que à sua presença magnética, se juntam um styling espectacular, nomeadamente o cabelo curto pintado de louro platinado e roupas saídas da última colecção primavera/verão que a fazem sobressair entre a multidão tailandesa. A sua personagem representa a oportunidade perfeita para apresentar a jovem moderna, independente e um pouco promiscua na tela. Phoon representa uma imagem indesejável para a jovem tailandesa tradicional, escapando à caracterização da maioria das personagens femininas que pululam os ecrãs do país, puras, crentes e respeitáveis. No entanto, é deixado para o julgamento do espectador se Phoon surge como uma manobra arriscada de trazer uma personagem um pouco mais colorida para o grande ecrã ou, se o sofrimento da jovem decorre do seu comportamento pouco convencional.
Nat e Sujitto, até ao último quarto de hora de filme praticamente não apresentam qualquer conflito, com a agravante de que Nat nunca demonstra mais do que um feitio irascível e qualidades de boy toy que explicam o inicio da relação e o seu potencial de fim. Nat recusa terminantemente a existência da divindade enquanto o monge aceita cegamente a sua existência, pelo que a sua maneira de ver o mundo nunca é, até ali, questionada. É Phoon quem se apercebe das nuances e sofre por causa disso. Isto não quer dizer que qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade se aperceba de espíritos a olhar por cima do ombro ou de outras coisas que não existem no plano real. Não, isso já faz parte do filme. E também aí se encontram as maiores fraquezas de “Secret Sunday”. A introdução do sobrenatural é absolutamente desnecessária. Muitas das cenas são assustadoras ou quedam-se lá perto mas era perfeitamente plausível que Phoon e Nat fossem atormentados (apenas), devido ao passado e aos segredos que guardam. As suas motivações e medos também podiam ser conduzidos pela fase de vida em que se encontram. Já estão juntos há algum tempo e pode ter chegado a altura de explorar se a sua relação deverá ter continuidade ou se esta união deixou de fazer sentido. Uma road-trip onde uma série de peripécias os leva a questionar o percurso de vida e o futuro que pretendem seguir. Mas considerando o mercado tailandês o elemento terror possui um tal nível de atracção que leva a que sejam produzidos muitos filmes direccionados para esse tipo de público e, com bastante frequência, sejam produzidos muitos que pecam pela falta de qualidade. É por isso, lamentável, que no meio dessa montanha de obras, gemas como esta permaneçam por descobrir. Três estrelas e meia.
Realização: Saranyoo Jiralak
Argumento: Saranyoo Jiralak
James Alexander Mackie como Nat
Siraphan Wattanajinda como Phoon
Pradon Sirakovit como Sujitto


Próximo Filme: "Forbidden Siren" (Sairen, 2006)

PS: Não fui eu que vos disse que este filme está disponível, na integra, no youtube com legendas em inglês.

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