domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Heaven and Hell" (Wong Jorn Pid, 2012)


Parece que ainda ontem “Dumplings” de “Three… Extremes” (2004) e “Phobia” (2008) pareciam recuperar o subgénero através de uma boa dose de arrojo, criatividade e imagens fortes. Esses eram os tempos… Seguiu-se uma sucessão de réplicas com personagens ostensivamente semelhantes, talvez com outros nomes e noutros cenários, essencialmente a mesmas estórias recontadas numa tonalidade diferente. “Heaven and Hell” apresenta tonalidades a preto e branco e às vezes cinzentas. As três estórias apresentadas apresentam uma única característica em comum: as imagens são captadas pelas câmaras de segurança instaladas nos edifícios respectivos. Em “Ghost Legacy” duas irmãs siamesas únicas herdeiras vivas que se conhece de Khun para conhecer a sua última vontade, expressa no testamento. Cedo percebem que o avô Khun, que mal conheciam era obcecado com a sua segurança, tendo instalado um sistema de vigilância em todas as divisões da casa. Enquanto não conhecem os conteúdos do testemunho torna-se óbvio que elas não são desejadas ali e que não é claro quem é que observa e quem está a ser observado. O velho Khun também não se mostra grandemente interessado em deixar que alguém fique com as suas possessões, ainda que já não se encontre neste mundo… “Ghost Legacy” é um enredo demasiado enredado para 20 minutos de filme e, que não abona a favor de quase nenhuma das personagens. As gémeas são demasiado reminiscentes da curta-metragem “Alone”(2007) desde a parecença das jovens actrizes ao pormenor dos acessórios. Uma tem óculos porque aparentemente há sempre uma intelectual num conjunto de gémeas. A diferença maior é pois no estilo, que “Ghost Legacy” é um filme mudo. Apenas não tem um acompanhamento sonoro mais do que esporádico, tornando a curta-metragem num visionamento longo e penoso. Existe ainda um contraste perturbador entre as expressões dos actores e as linhas de diálogo que estampadas no ecrã alimentam alguma esperança de seguimento da estória. Onde um actor deveria emular agressão há um olhar de complacência, onde uma actriz deveria demonstrar medo, surge desafio. Onde a pós-produção devia completar o processo, preencher os buracos, torna-se o seu maior fracasso. Elimina quaisquer propensões artísticas que o realizar pudesse ter.
“Heaven 11” passa-se numa menos glamorosa loja de conveniência. Dois novos empregados relatam como já faleceram ali quatro empregados antes. Uma maldição qualquer assombra aquele lugar e, se não tiverem cuidado eles poderão ser as próximas vítimas. Isso explica o pouco tempo de permanência de cada empregado. Um deles é Jick (Patcharee Tubthong), filha do patrão que se entretém durante as longas horas de plantão, em conversas telefónicas e na internet com as melhores amigas Noo e Sam. O que se segue são invejas e intrigas próprios da idade, que poderão ter consequências muito sérias, sobretudo se empurradas por fantasmas que não pretendem passar a eternidade sozinhos. Temas como romance, amizade, ciúme, bullying formam um compêndio de culpas e troca de acusações que podiam funcionar melhor se se tratasse de um filme independente ao invés de uma curta-metragem. Mas o melhor devem ser mesmo as breves cenas cómicas, como a imagem de um homem másculo que se transforma num medricas perante uma situação de morte iminente e uma empregada vesga pouco esperta que tem tiradas tão fabulosas como “Tenho ar de quem precisa de sexo telefónico?” Tais linhas de diálogo quebram a tensão crescente mas ajudam a elevar uma película que até ali se revelava meramente mediana.
Cara de poucos amigos
“Hell no. 8” foca um elevador assombrado e dois técnicos muito divertidos que se calhar é melhor despacharem-se a fazer a manutenção do dito. Ao que parece uma mulher foi ali esfaqueada pelo ex-companheiro e… ali ficou. É o segmento mais divertido e prova, mais uma vez que no que face a fantasmas de mulheres assassinadas, os homens encontram-se sempre em desvantagem. (Só é pena que elas só façam valer os seus argumentos depois de mortas). Misóginos, pervertidos e um pouco destravados, mas o absurdo torna-os tão divertidos que vê-los vítimas de uma mais uma descabelada parece é um desperdício. Enfase na palavra “parece” porque há mais estória do que as primeiras aparências podiam fazer crer. E sempre tem a vantagem do cameo da personagem mais engraçada do filme anterior. Mais uma antologia desigual, mais uma antologia desnecessária. Duas estrelas e meia.
O melhor:
- Homenagem ao cinema mudo
- Todas as falas da empregada vesga
- Alguém sabe onde foram desencantar os técnicos e a empregada vesga? São hilariantes.

O pior:
- Contraste entre a imagem e a legenda
- Falta de rítmo
- “Homenagem” a “Alone” (2007)
- “Heaven 11” ser uma curta-metragem
- Descabelada vingativa. Bocejo.

Realização: Yuthlert Sippapak e Tiwa Moeithaisong
Argumento: Kiattisak Sriratnonsung, Kosess Chalidtiporn, Taweewat Wantha e Kiradej Ketakinta
Natta Bangkhomnet como Siamesa 1
Nattaya Bangkhomnet como Siamesa 2
Akarin Akaranitimaytharatt
Theeradanai como Pricha
Patcharee Tubthong como Jick
Adirek "Uncle" Wattleela  como policia
Artir Wiboonpanitch
Panita Thumwattana

Próximo Filme: "Neighbour n.º 13" (Rinjin 13-gô, 2004)

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